Título: Apoio de padrinhos garantiu comando do banco
Autor: Vannildo Mendes e Vânia Cristino
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/03/2006, Nacional, p. A7

O economista Jorge Eduardo Levi Mattoso, que acaba de ser indiciado em inquérito da Polícia Federal (PF), é um homem bastante próximo da cúpula petista e do Palácio do Planalto. Antes de chegar à presidência da Caixa, ele integrou a equipe de Marta Suplicy na Prefeitura de São Paulo. Chefiou a Secretaria de Relações Internacionais, criada naquela gestão.

Mattoso chegou até a prefeita pelas mãos de Marco Aurélio Garcia, que era secretário municipal de Cultura. Intelectual dos mais respeitados no PT, do qual é vice-presidente, Garcia é amigo e conselheiro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - que o nomeou assessor especial de Relações Internacionais do governo.

Para chegar ao comando da Caixa, o maior banco público da América Latina, com 33,6 milhões de clientes, e principal agente das políticas públicas do governo federal, ele enfrentou uma disputa renhida com vários outros pretendentes, dentro e fora do PT. Venceu pela força de padrinhos poderosos. Além de Marta e Garcia, ele teria o apoio de Dilma Rousseff, ex-ministra de Minas e Energia, atualmente na chefia da Casa Civil.

Já no poder, Mattoso levou para sua assessoria outro integrante do governo Marta: Jorge Fontes Hereda, ex-secretário municipal de Serviços e Obras, que passou a dirigir a vice-presidência de Desenvolvimento Urbano, o segundo cargo mais cobiçado na Caixa. Por sua vez, Hereda levou Ricardo Schumann, ex-presidente da Cohab de São Paulo, na mesma gestão de Marta.

De acordo com o que foi apurado até ontem pela PF, foi Schumann quem acessou indevidamente o extrato bancário de Francenildo dos Santos Costa - o caseiro que contestou o ministro da Fazenda - e depois levou o material a Mattoso.

IRREGULARIDADES

Mattoso nasceu em Porto Alegre, em 1949. Doutor em economia, com passagem pela Sorbonne de Paris, é professor licenciado do Instituto de Economia da Unicamp e integra o conselho curador da Fundação Perseu Abramo - instituição criada e mantida pelo PT para discutir políticas públicas e programas de governo.

Sua passagem pela Caixa foi conturbada. Depois de um longo conflito, em outubro do ano passado, Mattoso teve de enfrentar os parlamentares da CPI dos Bingos para falar sobre as supostas irregularidades ocorridas na contratação dos serviços da Gtech - no mesmo escândalo que envolvia Waldomiro Diniz, assessor especial da Casa Civil nos tempos do ex-todo poderoso José Dirceu.

Mattoso também teve de dar longas explicações sobre os motivos que o levaram a contratar, para assessorá-lo na área de recursos humanos, o ex-secretário da Fazenda de Ribeirão Preto Ralf Barquete - um dos nomes mais citados nos escândalos da chamada república de Ribeirão, que teria à sua frente o ex-ministro Antonio Palocci.

Na Caixa, Jorge Mattoso procurou ampliar a rede de agências e favorecer os créditos para habitação. Em seu discurso de posse, afirmou que o maior desafio de sua gestão seria construir uma instituição voltada para o social e, ao mesmo tempo, lucrativa. Caiu no meio de um escândalo dos mais fragorosos do atual governo.