Título: Wall Street quer garantias de que nada vai mudar
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/03/2006, Nacional, p. A9

A escolha de Guido Mantega para o Ministério da Fazenda era um dos cenários menos desejados pelos investidores e analistas de Wall Street e da City londrina. Para eles, vão crescer as incertezas com o gerenciamento da economia no longo prazo, principalmente se o presidente Lula for reeleito.

Mas, como quase ninguém acredita em mudanças na política econômica neste ano eleitoral, o impacto negativo da troca do ministro, que deverá ficar mais claro hoje nos mercados, poderá ser limitado.

Os investidores querem de Mantega provas de que manterá, no longo prazo, a atual política macroeconômica. Também querem verificar como ele vai se relacionar com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. "Até agora, os investidores e eu dormíamos tranqüilos com o Palocci", disse o diretor de um banco espanhol. "A partir de agora, temos uma dose de incerteza que poderá atrapalhar nosso sono."

Nuno Camara, economista sênior do Dresdner Kleinwort Wasserstein, prevê que poderá ocorrer uma reação inicial negativa nos mercados hoje, mas acredita que deverá ser limitada e temporária, pois os fundamentos do País permanecem sólidos. "É preciso não fazer prejulgamentos e aguardar o posicionamento do novo ministro", disse Camara.

Para Benito Berber, analista do HSBC, os investidores preferiam a indicação de Murilo Portugal (secretário-executivo da Fazenda). "A grande questão agora é saber se o novo ministro vai manter os principais nomes da atual equipe econômica", disse. "Se houver mudanças, a incerteza vai aumentar."

Para o jornal Financial Times, a pressão sobre o governo vai aumentar amanhã, quando a CPI deverá afirmar "que o presidente Lula sabia do suposto esquema do mensalão no Congresso Nacional".

Em Wall Street, analistas disseram que a saída de Palocci não foi surpresa. Eles admitem que o mercado vai reagir negativamente, mas será algo temporário. Alguns acham até que Mantega é um bom nome para o cargo por ter ampla experiência macroeconômica.

Mas é consenso que Mantega enfrentará fortes dificuldades iniciais pela falta de perfil político. Para os analistas, o ministro terá de ser forte no lado técnico para conquistar a confiança dos mercados e estará sob forte pressão para ser ainda mais rígido na disciplina fiscal.

"O trabalho difícil (na economia) já está feito, pondera Gianfranco Bertozzi, vice-presidente para América Latina do Lehman Brothers.