Título: Brasil precisa de 'espaço fiscal' para investir, afirma o Bird
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2006, Economia & Negócios, p. B11

Para Bourguignon, melhora na infra-estrutura acelera o crescimento

O economista-chefe do Banco Mundial (Bird), François Bourguignon, disse ontem que o Brasil precisa ampliar os investimentos em infra-estrutura para acelerar o crescimento. Segundo ele, o País precisa encontrar "espaço fiscal" para isso. O economista também afirmou que uma maior abertura comercial favorece o crescimento dos países, mas reconheceu que o Brasil está em meio a negociações internacionais e comentou que o Banco Mundial está do lado dos emergentes. "É absolutamente urgente criar as condições para que o crescimento se acelere no Brasil." Nesse sentido, Bourguignon defende reestruturação dos gastos públicos e políticas macroeconômicas que aumentem a eficiência da aplicação dos gastos e maior liberação de recursos para os investimentos necessários.

Um dos principais motivos do baixo crescimento foi o fato de o País "não ter investido muito" em infra-estrutura. A breve análise foi feita por Bourguignon depois de participar, ontem, na sede do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no Rio, de debate sobre desigualdade social.

Ele concordou que o Brasil não tem crescido, nas últimas duas décadas, à mesma velocidade que outros países. No ano passado, o PIB brasileiro avançou 2,3%, abaixo da média da América Latina e acima, na região, só do Haiti, com base nos dados da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe.

Sexta-feira, Bourguignon participou de encontro na Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). Estiveram presentes representantes do governo e industriais, que discutiram a abertura comercial. A questão vem sendo analisada desde 2005 pelo Ministério da Fazenda.

Questionado sobre a resistência do setor industrial brasileiro à perspectiva da redução de tarifas de produtos industriais, o economista comentou que quando se discute a abertura do comércio não importa quem perde ou quem ganha a curto prazo, pois todos ganharão no longo prazo. "A questão é saber quem vai abrir primeiro", disse, ao citar negociações do País com outras regiões.

Ele explica que os países desenvolvidos admitem abrir os setores agrícolas, desde que os em desenvolvimento façam concessões na área de produtos industriais. Bourguignon complementou que a instituição defende a abertura das economias mais fortes e comentou que "no Banco Mundial estamos do lado dos países emergentes e em desenvolvimento".

O banco prega "maior eqüidade na arena global", principalmente nos mercados internacionais de trabalho, bens, idéias e capital. O Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 2006, divulgado ano passado pela instituição, defende que a eqüidade favorece o desenvolvimento econômico e tenta estimular os países desenvolvidos para uma série de práticas favoráveis à igualdade mundial.