Título: Chávez recua na compra de 36 navios petroleiros do Brasil
Autor: Kelly Lima, Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2006, Economia & Negócios, p. B10

Reunião com representantes de estaleiros foi cancelada por venezuelano

Com passagens compradas e vagas reservadas em hotéis venezuelanos, os integrantes da extensa comitiva formada por representantes de cinco estaleiros brasileiros e entidades de classe do setor naval tiveram de suspender tudo. A reunião que teriam hoje com o presidente da Venezuela, para negociar a construção de 36 navios no Brasil, foi cancelada pelo próprio Hugo Chávez. Segundo uma fonte do setor naval, o motivo foi o descontentamento de Chávez com a divulgação do negócio antes de ter sido acertado.

A fonte, que participaria do encontro, disse que o presidente preparava um grande evento no Brasil para divulgar a encomenda e teria comentado que o Sindicato Nacional da Indústria Naval-Sinaval "jogou água" no projeto. A divulgação da encomenda também teria provocado protestos entre trabalhadores venezuelanos, descontentes com a importação dos navios.

Na semana passada, o presidente do Sinaval, Ariovaldo Rocha, convocou entrevista para comentar a situação da indústria naval brasileira e acabou anunciando o negócio, revelando até a estimativa de orçamento, em torno de US$ 3 bilhões. Ontem, ele minimizou o episódio, dizendo que houve só adiamento da reunião, "por questões políticas" - entre elas, a agenda de Chávez. Rocha acrescentou que não acredita em cancelamento da encomenda.

Assim que foi noticiado o pedido dos 36 navios - quase o total do lote de 43 embarcações que a Venezuela encomendará no mercado internacional -, houve reações de estranheza no mercado, pois aqui o custo seria mais alto. A avaliação preliminar foi de que haveria um viés político no negócio, com apoio de Chávez a uma eventual reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva.

A assessoria de Chávez telefonou para o Sinaval na sexta-feira, cancelando o encontro quatro dias antes da data agendada. Para outro dos envolvidos na negociação, a hora agora é de "esperar o humor de Chávez mudar" para que seja marcada uma nova reunião.

TRANSPETRO

A Transpetro divulga hoje o resultado dos recursos apresentados pelas empresas eliminadas na licitação para a construção de 26 navios petroleiros. Na mesma sessão pública, a companhia deve abrir os envelopes com as propostas financeiras. Os recursos foram apresentados só em instância administrativa, mas os dois estaleiros eliminados da concorrência, Eisa e Keppel Fels, podem recorrer da decisão na Justiça.Um acordo entre os integrantes do Sinaval previa que nenhuma empresa entraria na Justiça contra decisão da Transpetro, para não atrasar mais o cronograma.

Segundo o edital da licitação, as propostas foram feitas para os lotes de navios Suezmax (dez navios), Panamax (quatro), Aframax (cinco), gaseiros ou GLP (três) e produtos (quatro navios).

Por enquanto, só o lote referente à encomenda de quatro navios de produto foi aberta. O único concorrente, vencedor desta licitação, o estaleiro Mauá Jurong, está em processo de negociação com a Transpetro para baixar o custo apresentado, de US$ 83 milhões por navio. A estimativa do mercado é de que os 26 navios custarão em torno de US$ 2 bilhões.