Título: Um crítico do juro alto e da 'voz conservadora' do Banco Central
Autor: João Domingos e Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/03/2006, Nacional, p. A14

Para fazer a curta travessia de nove meses até o final do atual governo, o presidente Lula escolheu um pessoa que é, atualmente, um dos seus principais interlocutores. Mantega vinha conversando com o presidente pelo menos uma vez por semana, geralmente às quintas-feiras. A amizade entre os dois começou quando o novo ministro, na década de 1990, deu-lhe aulas de economia.

No início do governo, Lula o nomeou para o Ministério do Planejamento e, posteriormente, para a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em substituição a Carlos Lessa.

Mantega vinha sendo um dos principais críticos, dentro do governo, da política monetária executada pelo Banco Central. "Ele tinha divergência aberta com o BC", lembrou ontem uma fonte do governo. Pedia insistentemente que o ritmo da queda fosse acelerado.

Comprou também a briga pela redução da taxa de juro de longo prazo (TJLP), que pretendia baixar de 9% ao ano para 7%. Em defesa de suas opiniões, o atual ministro da Fazenda sempre esteve em rota de coalizão com o secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, principalmente quando o assunto era a TJLP.

Em repetidas ocasiões as posições que ele defendia eram interpretadas como recados de Lula. O choque mais recente entre Mantega e Levy deu-se em torno do salário mínimo. Levy mostrou, em nota técnica divulgada pelo site do Ministério da Fazenda, que o aumento real do mínimo em 2005 foi o responsável por parte substancial do crescimento do gasto público do governo federal.

Mantega rebateu essa avaliação. Chamou a análise de Levy de "um equívoco" e disse que ele não considerou outros fatores igualmente relevantes para os gastos, como o "esqueleto" da Previdência Social deixado pelo governo Fernando Henrique Cardoso. O novo ministro da Fazenda disse que Levy era uma "voz conservadora", que não estava em sintonia com a política social adotada pelo governo Lula.