Título: Escolha indica que presidente dará as cartas na economia
Autor: João Domingos e Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/03/2006, Nacional, p. A14

Ao escolher o economista Guido Mantega para suceder Antonio Palocci no Ministério da Fazenda, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva procurou dar dois sinais claros ao mercado. O primeiro deles é que, a partir de agora e até o final de seu governo, ele é quem comandará pessoalmente a economia do País. "Mantega vai fazer tudo o que o presidente mandar", sintetizou ontem uma importante fonte do governo.

Por sua proximidade com Lula, Mantega foi o escolhido para fazer a "travessia" de nove meses até um eventual segundo mandato do presidente. Se escolhesse o o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), Lula teria que mantê-lo no cargo também em um eventual futuro governo, se reeleito - pois Mercadante teria que desistir da disputa que trava com a ex-prefeita Marta Suplicy pela candidatura do PT ao governo paulista. Lula optou por um nome que poderá trocar quando necessário.

No encontro com Mercadante, após o anúncio da demissão de Palocci, Lula disse ao senador que precisa que ele permaneça no Senado. "O presidente me disse que é imprescindível que eu continue na liderança do governo", informou Mercadante ao Estado. No encontro, Lula voltou a afirmar que o senador é o seu candidato em São Paulo.

O outro recado que o presidente quis dar, ao escolher o novo ministro, é que aumentará o empenho do governo para a redução da taxa de juro. Com isso, segundo as mesmas fontes, o presidente espera aproximar-se do empresariado, que pede uma queda rápida dos juros.

Mantega brigou por essa redução na taxa de juros de longo prazo (TJLP), usada nos empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), tentando reduzi-la de 9% para 7%. O Conselho Monetário Nacional (CMN) decide esta questão amanhã, se a reunião que já estava marcada for mantida. "Este será o primeiro teste de Mantega", avaliou um membro da equipe econômica.

Mantega espera, segundo fontes do governo, que Levy aceite imediatamente o convite para ocupar um cargo no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Ele vinha adiando a saída do governo a pedido do ex-ministro Palocci.

Ontem, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Murilo Portugal, o braço direito de Palocci, pediu demissão em caráter irrevogável. Assim, Mantega já tem dois cargos para preencher após assumir oficialmente hoje o Ministério da Fazenda.

VENDAVAL

A avaliação feita ontem por uma alta fonte do governo é que as mudanças na equipe "vão provocar um vendaval no mercado". Murilo Portugal, conhecido nos bastidores como "Dr. Não", por sua determinação em negar pedidos que aumentem os gastos públicos, era visto pelo mercado não apenas como eventual substituto de Palocci, mas também de Henrique Meirelles no Banco Central. Ele e Levy eram uma garantia do controle dos gastos.

Com a escolha de Mantega, Lula fortalece o grupo que deseja ampliar os investimentos públicos e isola o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. No final do ano passado, Palocci e Bernardo enfrentaram a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que cobrava a liberação de mais recursos para os investimentos. Nessa luta, Dilma contou com a ajuda do então presidente do BNDES, Guido Mantega.