Título: Para Fiesp, estabilidade segue garantida; Força comemora
Autor: João Domingos e Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/03/2006, Nacional, p. A14

Entidades sindicais e economistas consideraram a saída do ex-ministro Antonio Palocci fundamental para as investigações sobre a quebra ilegal do sigilo do caseiro Francenildo dos Santos Costa. Ainda de acordo com as primeiras avaliações, a troca na Fazenda não deve afetar os rumos da economia brasileira.

"Seja qual for o quadro futuro, o Brasil está maduro para receber as modificações no governo e seguir em busca do desenvolvimento. A economia, como já vem acontecendo, não deverá ser abalada", afirmou Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

O secretário do Tesouro, Joaquim Levy, elogiou o ex-ministro. "Se encontrarem uma pessoa tão eficiente e capaz como o Palocci, se acharem outro Palocci, não haverá problemas", afirmou. Questionado sobre as diferenças que ele tem com o novo ministro, que defende uma linha mais desenvolvimentista, Levy respondeu: "Tenho certeza de que o Mantega cumprirá todos os nossos objetivos fiscais. Ninguém deve ter dúvida disso."

De acordo com o presidente da central trabalhista Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, o afastamento foi benéfico para o País. Ele disse que seria péssimo exemplo manter um servidor público de alto escalão que passou a ser manchete diária nas páginas policiais, em vez das páginas econômicas.

"Um cargo da importância de condutor da economia não pode ter a imagem maculada com o envolvimento em atos ilícitos", declarou. A Força aproveitou a ocasião para criticar a forma como foi conduzida a Fazenda no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

A Central Única dos Trabalhadores (CUT), a maior do do País, divulgou nota afirmando ser contrária a toda e qualquer quebra de sigilo bancário ilegal. Mas também sublinhou que que considera "inaceitável que uma irregularidade como essa e a conseqüente saída do ministro da Fazenda continue sendo usada como combustível de uma insidiosa, oportunista e hipócrita campanha da oposição, com a ajuda de setores da mídia, para desestabilizar o governo federal".

A direção da CUT disse esperar que o substituto de Palocci atenda às reivindicações históricas dos trabalhadores, com a redução das taxas de juros e do superávit primário. A central também reivindica a metas de geração de emprego e crescimento e a prioridade para investimentos em políticas sociais.

ESTÁVEL

Para a analista Lisa Schineller, da Standard & Poor's, a mudança não irá afetar a classificação de risco (rating) do Brasil. "O rating não depende de uma pessoa só, a política fiscal não é uma visão só do ministro Palocci, é do governo", assinalou.

O economista Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central, lamentou a saída de Palocci, que teria feito "um trabalho extraordinário, resistindo à tentação populista e protegendo o Banco Central". Quanto ao novo ministro, disse que "seria bom ele manter a equipe de Palocci, com Murilo Portugal, Joaquim Levy. Palocci não é economista, não tinha idéias preconcebidas. Já Mantega é economista, e não é ortodoxo. Mas acho que, quando ele sentar na cadeira do piloto do avião, vai ver que não existe muito espaço para manobra."

O presidente do Conselho Regional de Economia de São Paulo, Heron do Carmo, disse acreditar que a mudança não terá reflexos na economia real. "Serão apenas alterações passageiras no mercado, como é de se esperar."