Título: Europeus aumentam pressão
Autor: Eduardo Kattah
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2006, Economia & Negócios, p. B10

Idéia é levar ao governo proposta formal de investimento

Embaixadores da Finlândia, Áustria, Alemanha, França, Itália e União Européia reuniram-se ontem com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e com o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, para afirmar que têm interesse em instalar uma fábrica de semicondutores no Brasil. Eles disseram que vão agir para que seja feita uma proposta formal do investimento, como quer o governo brasileiro. Amanhã, a ministra recebe os representantes da empresa franco-italiana ST Microeletronics, que seria a responsável pela nova fábrica. Os embaixadores acenaram com a possibilidade de buscar financiamento em seus países para viabilizar o investimento.

A reação dos europeus, numa disputa que era dada como ganha pelos japoneses, fez com que o governo adiasse a escolha da tecnologia de TV digital no País. Originalmente, os ministros envolvidos nas negociações dariam sua opinião na sexta-feira passada e o presidente Lula anunciaria a decisão no início desta semana. No entanto, a movimentação dos europeus animou os ministros a pedir a Lula mais tempo para negociar. O adiamento deverá ser de algumas semanas.

O ponto central da decisão passou a ser algo que não estava na mesa de negociações até há pouco tempo: a fábrica de semicondutores. Ela será o critério de desempate entre japoneses e europeus que, no mais, oferecem condições semelhantes de financiamento para a compra de novos equipamentos por parte das emissoras e regras para pagamento de royalties.

Em troca da fábrica, o governo está disposto a reduzir o peso das avaliações técnicas que, até o momento, apontam a tecnologia japonesa como a melhor. Os negociadores acham que os japoneses levam vantagem porque sua tecnologia é a mais recente - portanto, incorpora os avanços das demais. Mas nada impede que os europeus ou americanos atualizem sua tecnologia e, dessa forma, superem os asiáticos.

Por enquanto, nem europeus nem japoneses apresentaram uma proposta formal para o investimento em semicondutores. Ontem, o ministro Furlan recebeu o embaixador do Japão, Takahiko Horimura, e insistiu em receber uma proposta para a fábrica. Os japoneses analisam a possibilidade de fazer o investimento, mas ainda têm dúvidas. A principal delas seria a escala, ou seja, o tamanho do mercado brasileiro poderia não ser grande o suficiente para acomodar tal investimento.

A exigência da fábrica de semicondutores faz parte do processo chamado "offset" (compensação). Uma decisão como esta abrirá um enorme mercado para o vencedor, e é de se esperar que o País receba algo em troca.