Título: Briga para incluir nomes adia de novo relatório da CPI dos Correios
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/03/2006, Nacional, p. A15

A apresentação do relatório final da CPI dos Correios deverá ser feita somente amanhã. Essa é a segunda vez em uma semana que a cúpula da CPI adia a leitura do texto final elaborado pelo deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). O presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), reuniu-se ontem à noite com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para avisar da possibilidade de o relatório não ser mais apresentado hoje, conforme previsto inicialmente.

Integrantes da CPI informaram que Delcídio pretendia incluir dados obtidos nas últimas horas com novos nomes que teriam se beneficiado do mensalão, pessoas ligadas ao PT, ao PP e ao PTB. Às vésperas da apresentação do relatório, governo e oposição continuam travando uma disputa política.

Para rebater o relatório final de Serraglio, o PT tem praticamente pronto um texto alternativo, que estaria sendo elaborado por técnicos do partido sob o comando do deputado Maurício Rands (PT-PE). Os líderes governistas temem que Serraglio não ceda às pressões para fazer um relatório brando e insista em pedir o indiciamento de estrelas do PT, como os ex-ministros José Dirceu e Luiz Gushiken.

Para fugir das pressões, Serraglio sumiu durante todo o dia de ontem. Mandou recados para a oposição garantindo que se mantinha firme na decisão de pedir o indiciamento de cerca de 130 pessoas, incluindo ex-dirigentes petistas. "O relator Osmar Serraglio não vai sucumbir às pressões", afirmou o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), sub-relator de fundos de pensão, que pediu indiciamento de 49 pessoas, entre donos de corretoras e ex-dirigentes de entidades de previdência privada de estatais.

Ao mesmo tempo, o relator sinalizou ao governo que poderá salvar do pedido de indiciamento os ex-ministros Dirceu e Gushiken, além do ex-presidente do PT José Genoino e do ex-secretário-geral do partido Silvio Pereira. A proposta, a princípio encampada por Serraglio, prevê a criação de uma categoria intermediária, em que o envolvido com o mensalão é encaminhado ao Ministério Público para eventual indiciamento por conduta delituosa. Nessa categoria estão incluídos Dirceu, Silvio Pereira e os 18 deputados envolvidos no mensalão.

LULA

Além do recuo nos indiciamentos, os petistas também não aceitam que Serraglio cite o nome do presidente Lula no relatório. A líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), deixou isso claro ontem, quando foi à tribuna para anunciar que o partido não aceita a inclusão do nome de Lula no texto. "Não há provas para esse tipo de ilação. O presidente chamou os responsáveis e pediu providências", afirmou a líder petista. No relatório final, Serraglio anunciou que vai citar Lula com base no depoimento do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB), que denunciou o mensalão. Jefferson contou que avisou Lula sobre pagamento a parlamentares para votar a favor de proposta do governo.

Os petistas não aceitam qualquer relação entre o mensalão e a votação de propostas de interesse do Palácio do Planalto. "Dizer que existe mensalão no sentido de que houve pagamento, tudo bem. Mas não existe dizer que está comprovada a condicionalidade do mensalão para votar em determinadas matérias de interesse do governo", afirmou Rands.

O PT quer que fique claro no relatório de Serraglio que o esquema de caixa 2 montado por Marcos Valério é antigo e vem desde 1998, na época da campanha à reeleição do então governador de Minas e hoje senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG). "Não vamos aceitar que isso não esteja no relatório", disse Rands.