Título: Corregedoria vai examinar a dança da pizza
Autor: Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/03/2006, Nacional, p. A15

A "dança da pizza", como ficou conhecida a seqüência de passos animados da deputada Ângela Guadagnin (PT-SP) no plenário da Câmara, poderá se transformar em um processo contra a parlamentar. O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), pediu formalmente ao corregedor, deputado Ciro Nogueira (PP-PI), que examine o comportamento da deputada paulista.

Guadagnin comemorou a absolvição do deputado João Magno (PT-MG) do processo de cassação na madrugada da última quinta-feira dançando, inicialmente no meio das cadeiras e, em seguida, no corredor do plenário.

No pedido, Rebelo não fala em falta de decoro nem sugere punição, apenas pede ao corregedor que examine o fato. No pedido, foram anexadas fotos de Guadagnin dançando e reportagens publicadas na imprensa com a repercussão negativa do episódio. O corregedor começou a analisar o ato da deputada ontem mesmo.

A dança da parlamentar pode ser entendida como um desrespeito à Câmara. Houve manifestações contrárias de parlamentares e a própria população, que encarou a atitude como uma ofensa.

A favor da deputada, no entanto, há o fato de ela ter pedido desculpas à população após a repercussão de seu ato. Essa atitude de Guadagnin deverá ser levada em conta na avaliação do corregedor, que poderá entender que ela demonstrou que não pretendia ofender ninguém.

DESCULPAS

"Que me perdoe quem encarou como deboche. Foi um ato humano, diante da situação de um amigo. Eu sou humana, agi espontaneamente, com o coração", argumentou a deputada no dia após a dança. "Em nenhum momento quis gozar ou tripudiar."

A corregedoria é o órgão da Casa que examina o comportamento dos deputados. Funciona, em alguns casos, como uma instância anterior ao Conselho de Ética. Ontem, a deputada não quis comentar o pedido de Aldo ao corregedor. Por meio de sua assessoria, disse que falará sobre o assunto hoje no plenário da Câmara.

Ângela integra o Conselho de Ética da Casa, que justamente julga envolvidos no valerioduto. Invariavelmente, porém, ela pede vistas dos processos que pedem cassação de petistas para ganhar tempo. Na próxima quarta, ela quer gastar quatro horas para ler relatório alternativo pela absolvição de João Paulo Cunha (PT-SP). O parecer oficial é pela cassação.

Eleita prefeita de São José dos Campos em 1993, a deputada federal Ângela Guadagnin (PT-SP), que também é pediatra, administrou a cidade, de cerca de 500 mil habitantes, até 1996. Foi eleita com grande parte dos votos dos católicos.

Depois perdeu as eleições duas vezes para o atual secretário estadual de Habitação de São Paulo, Emanuel Fernandes (PSDB). Foi alvo de três pedidos de cassação que não se concretizaram. Um deles chegou a ser levado para o plenário da Câmara, mas acabou rejeitado.