Título: Banqueiros vêem América Latina menos vulnerável
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2006, Economia & Negócios, p. B6

O Instituto de Finanças Internacionais (IIF, em inglês) apresentou ontem uma avaliação positiva do Brasil e dos demais países latino-americanos que vêm adotando políticas macroeconômicas sólidas e reduzindo suas vulnerabilidades financeiras.

Segundo a entidade, que reúne os maiores bancos e fundos de investimento privados do mundo, esses países estão muito melhor preparados para mudanças no ambiente externo, principalmente por causa do acúmulo de reservas em moedas estrangeiras.

"Esses países construíram um colchão para amortecer qualquer choque externo", disse o economista-chefe do IIF, Yusuke Horiguchi, em entrevista coletiva. "A menos que o choque que se materializar seja enorme, a América Latina em geral está preparada para resistir por um bom tempo. Mas é óbvio que, se o choque durar muito tempo, teremos de reavaliar a situação."

"Prevemos para 2006 um terceiro ano de sólido crescimento, em torno dos 4%", disse o diretor-gerente do IIF, Charles Dallara. "As condições externas e domésticas continuam favoráveis."

Entre os principais riscos para os países latino-americanos, o IIF destaca a eventual alta acima do previsto das taxas de juros nos Estados Unidos e outros países ricos, uma queda aguda no crescimento mundial e forte recuo nos preços das commodities, que seria relevante "principalmente no caso do Brasil".

O diretor-regional para a América Latina do IIF, Frederick Jaspersen, também ressaltou que a região aproveitou a forte liquidez dos mercados externos para fortalecer sua situação financeira. Como exemplo, ele ressaltou que em 2002 a dívida externa da região representava cerca de 200% do volume total das exportações e no ano passado essa relação caiu para cerca de 112%.

Jaspersen alertou, no entanto, que essa redução da vulnerabilidade externa da região não pode ser vista como suficiente para garantir a estabilidade financeira da região no longo prazo. "Há riscos que a América Latina vai enfrentar mais para frente", disse. "Há uma necessidade urgente de se seguir na adoção de reformas fiscal, previdenciária e trabalhista, ou seja, todas as reformas que aumentam a produtividade do país. Isso também é necessário para se proteger."

O presidente do Banco Itaú e vice-presidente do IIF, Roberto Setúbal, disse que a "América Latina vive um momento muito bom", especialmente o Brasil. "Estamos vendo no Brasil e em outros países um importante esforço concentrado para se adotar políticas econômicas consistentes e sustentáveis, que fortalecem a base para o crescimento e a governabilidade", comentou Setúbal. "Há riscos, é claro, mas temos visto importantes avanços, inclusive no gerenciamento do risco nos bancos da região."

ELEIÇÕES

Os diretores do IIF acreditam que a eleição presidencial no Brasil em outubro não deverá ser um fator de desestabilização financeira. "Francamente, não vemos isso", disse Dallara. "A economia brasileira não está nada perto da vulnerabilidade de quatro anos atrás."

Ele acredita que, com o fim do ciclo eleitoral na América Latina, no fim deste ano, mais reformas estruturais deverão ser adotadas. "Com a notável exceção de alguns poucos países que vêm adotando políticas populistas nos últimos anos", disse.