Título: Lula: OMC está numa encruzilhada
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2006, Economia & Negócios, p. B4

Presidente quer um esforço dos governos para evitar que a Rodada Doha de livre comércio termine em impasse

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que os países da Organização Mundial do Comércio (OMC) estão numa "encruzilhada" nas negociações para acabar com os subsídios agrícolas.

Ao receber o presidente da Guatemala, Óscar Berger, e a Prêmio Nobel da Paz de 1992, a líder indígena guatemalteca Rigoberta Menchú, no Itamaraty, Lula defendeu um esforço dos governos para evitar que a Rodada Doha de livre comércio termine em impasse.

"O acordo para o fim dos subsídios agrícolas dos países ricos não depende mais de uma reunião técnica, depende agora de decisões políticas", afirmou. "Decisões políticas somos nós, os presidentes, que temos de tomar."

Lula comentou que, na semana passada, conversou sobre o fim dos subsídios com o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, em Londres, e ontem pela manhã o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, discutiu o assunto com a chanceler federal da Alemanha, Angela Merckel, por 30 minutos, em Berlim.

O presidente disse ter recomendado a Amorim que trabalhe para garantir uma negociação eficaz na Cúpula América Latina-União Européia, prevista para maio, em Viena. Segundo o presidente, é importante garantir a presença de presidentes e primeiros-ministros na reunião de cúpula de maio, para que ela resulte em algum avanço concreto.

Num discurso lido e com momentos de improviso, Lula voltou a defender a união em "grandes blocos" de países em desenvolvimento para enfrentar as políticas agrícolas da União Européia, que concedem subsídios aos produtores que exportam ou abastecem o consumo interno. "Nessas negociações, Guatemala e Brasil trabalham juntos no G-20 para mudar o panorama para suas exportações agrícolas nos mercados dos países ricos", salientou.

EXPORTAÇÃO DE JOGADORES

O presidente guatemalteco manifestou apoio às pretensões do governo brasileiro. Óscar Berger disse ainda estar interessado na tecnologia brasileira de produção de combustíveis renováveis e na implantação de programas sociais, como o Bolsa Família.

Num momento de descontração, Berger disse a Lula que gostaria mesmo era de importar jogadores de futebol. A seleção da Guatemala não se classificou para a Copa da Alemanha. Lula comentou a brincadeira: "Ele (Berger) quer que eu mande para lá um punhado de jogadores para ver se classifica a Guatemala para a Copa do Mundo".