Título: Para presidente do BC, Chile é modelo
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2006, Economia & Negócios, p. B3

Meirelles defende reformas para melhorar ambiente de negócios

O Brasil deve usar o Chile como modelo para seu crescimento. A análise é do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que nega que a adoção de medidas no País similares à experiência chilena possa ser uma radicalização de uma receita ortodoxa em sua política macroeconômica. "Muitas pessoas chamam o combate à inflação e o combate à dívida pública de receita ortodoxa. Me parece então que o mundo todo é ortodoxo. Não há exemplos de países que tenham crescido com inflação alta ou dívidas públicas crescentes. É só ver o caso do Chile", afirmou Meirelles, que ontem participou da reunião do Banco de Compensações Internacionais (BIS), na Basiléia.

Questionado sobre o que o Brasil deveria fazer para crescer, Meirelles voltou a afirmar que deve seguir o exemplo chileno. Segundo ele, o Chile, com um banco central independente, cresce a taxas de 6%, tem seu nível de despesa pública em 17% do PIB, metade da despesa publica brasileira, conta com política contracíclicas e, em 2005, conseguiu um superávit nominal de 5% do PIB.

"O Chile já está atingindo o momento em que se torna um credor líquido da economia. Se juntarmos isso à reforma previdenciária ocorrida, entendemos por que aumentou a capacidade de investimento do país, as taxas de juros são menores que as do Brasil e o país consegue crescer com índices importantes", afirmou.

Até para explicar as taxas de juros, Meirelles usa o Chile como parâmetro. "No Chile, a taxa baixa de juros ocorre porque o governo é credor." Ele não esconde que o caminho chileno pode dar resultados para o Brasil. "É importante que o País siga sua trajetória cadente da relação entre dívida pública e PIB e mantenha por um período prolongado o superávit primário. É importante uma política de estabilidade de preços com metas de inflação de forma consistente", defendeu o presidente do BC. Para ele, reformas, como a adoção de leis para facilitar o ambiente de negócios e aumentar a segurança jurídica devem ser adotadas no Brasil.

Sobre o crescimento abaixo do esperado em 2005, de apenas 2,3%, Meirelles argumenta que isso teria ocorrido por dois motivos. O primeiro seria a crise na agricultura. A segunda razão seria a queda do nível de estoques, que, aliada à diminuição do índice de confiança empresarial, pode ter ocorrido diante da crise política provocada pelos escândalos de corrupção. Segundo ele, isso acabou criando uma situação pouco comum, que foi a de ter um aumento da demanda agregada acima do crescimento do PIB.