Título: Meirelles apóia abertura comercial
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2006, Economia & Negócios, p. B3

Presidente do BC, que participa de reunião na Basiléia, diz que esta é uma forma para se estimular o crescimento

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, insinuou ontem uma defesa da abertura do mercado para a importação, como forma de estimular maior crescimento econômico, mas se recusou a comentar a estratégia brasileira nas negociações para a liberalização das tarifas na Organização Mundial do Comércio (OMC). Se Meirelles não quis falar, o presidente do BC Europeu, Jean Claude Trichet, demonstrando independência, não poupou críticas aos governos de seu próprio bloco por estarem adotando políticas protecionistas e pediu a conclusão das negociações na OMC.

O protecionismo foi tratado ontem na reunião dos maiores BCs do mundo, no Banco de Compensações Internacionais na Basiléia, e foi considerado um risco para a economia mundial. "Quanto mais abertas as economias, maiores as taxas de produtividade global", disse Meirelles. A OMC negocia desde 2001 a Rodada Doha, que visa à liberalização de mercados. O Brasil, porém, é acusado por europeus e americanos de não aceitar reduzir de forma suficiente as tarifas para a importação de produtos industriais e de serviços. Há poucos meses, o Ministério da Fazenda preparou um documento indicando cortes que não foram aceitos pelos setores produtivos. O Itamaraty alega que só fará concessões quando os países ricos baixarem suas barreiras ao produtos agrícolas.

Para Trichet, que também fala em nome dos dez maiores BCs do mundo e já foi presidente do Banco Central da França, a abertura dos mercados levaria a um aumento mais significativo dos PIBs e, principalmente, um crescimento sem inflação e com estabilidade de preços. "Estamos observando um número grande de sinais em todo o mundo que, em nossa opinião, não estão de acordo com o interesse da economia global. Podemos ver sinais de alguns países industrializados que são contra nossos interesses superiores em termos de crescimento sustentável e pressão inflacionária", afirmou.

Nos últimos meses, vários governos europeus têm sinalizado que podem adotar medidas protecionistas em diferentes setores. Na agricultura, a França se recusa a aceitar uma maior abertura do mercado europeu para produtos do Brasil e de outros países emergentes. Os franceses, juntamente com os governos da Bélgica, Luxemburgo e Espanha, ainda atacaram a proposta da empresa indiana Mittal Steel de adquirir a européia Arcelor. Para Trichet, essa é a uma tendência perigosa.

PETRÓLEO

O protecionismo não é o único fator de risco para a economia global. Os BCs alertaram que a alta nos preços de petróleo pode gerar inflação e, portanto, um impacto no ritmo de crescimento mundial. Outros riscos destacados por Trichet foram os acontecimentos no mercado imobiliário e os desequilíbrios fiscais nos Estados Unidos.

Ainda assim, o presidente do BC europeu garantiu: "O crescimento global está presente e com taxas de investimentos encorajadoras". Na avaliação de Trichet, a elevação das taxas de juros dos países ricos, como Japão, EUA e Europa, não devem afetar esse crescimento.