Título: Plano B de Kirchner é Cristina
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2006, Internacional, p. A14

Presidente argentino aposta na mulher para sucedê-lo

Cristina Fernández de Kirchner poderia pegar uma carona na onda de mulheres presidentes e primeiros-ministros que tomou conta do mundo nos últimos meses. Com a eleição e posse da socialista Michelle Bachelet como presidente do outrora conservador e machista Chile, e as chances ainda boas da candidata da centro-direita, Lourdes Flores, de tornar-se em março presidente do Peru (ler ao lado), a primeira-dama argentina aposta poder aspirar à sucessão do marido, o presidente Néstor Kirchner, com o qual, nos últimos anos, formou uma peculiar "dupla dinâmica" da política argentina.

A candidatura de Cristina Kirchner foi lançada há poucos dias na residência oficial de Olivos, quando Kirchner celebrava seu aniversário. Na ocasião, o presidente levantou seu copo de vinho e, diante de um seleto círculo de assessores, ministros e lideranças políticas, proferiu um brinde que causou um arregalar de olhos: "Por Cristina, presidente em 2007".

Este brinde indicaria que Kirchner teria deixado de lado sua candidatura à reeleição no ano que vem e apostaria as fichas em sua mulher, uma figura que tinha mais peso na política argentina que o marido antes que ele fosse eleito presidente em 2003. Desta forma, o presidente teria optado pelo plano B, já que a determinada e "durona" primeira-dama está nos calcanhares do marido em popularidade.

Os analistas afirmam que a fórmula de um Kirchner sucedendo a outro Kirchner é a ideal, pois assim Néstor não enfrentaria o costumeiro desgaste de um segundo mandato. E Cristina contaria com o primeiro ano de lua-de-mel de que um novo presidente quase sempre desfruta. Os politólogos não descartam que Néstor se candidate, em 2011, para suceder à mulher. Se tiverem sucesso, a Argentina teria Kirchners no poder até 2016.

O brinde em Olivos também explica os polêmicos cartazes (por serem pagos com fundos do Estado) que nas últimas três semanas surgiram em diversos estádios com os dizeres "Kirchner 2007". Agora, sabe-se que o Kirchner citado não era Néstor, mas sim, Cristina.