Título: Bush reage para recuperar liderança
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2006, Internacional, p. A14

Pesquisa registra nova baixa recorde de aprovação e presidente pede paciência ao país para resolver crise no Iraque

Para fazer frente à deserção dos republicanos, à mais baixa taxa de aprovação desde que assumiu a Casa Branca e a um crescente pessimismo da opinião pública sobre a guerra do Iraque, o presidente George W. Bush iniciou ontem uma nova série de discursos ao país para tentar retomar a iniciativa política. Em mais uma baixa recorde, a pesquisa CNN/USA Today/Gallup indicou ontem que a popularidade do presidente estava em 36% - um ponto porcentual a menos do que a marca mais baixa registrada anteriormente, em novembro.

Pressionado pelos maus resultados em termos de aprovação popular, Bush explicou o motivo de retomar a ofensiva lançada em dezembro - para convencer os americanos a continuar a crer num desfecho positivo da guerra - em seu programa semanal de rádio, no sábado. "Em meio às notícias diárias sobre carros-bomba, seqüestros e assassinatos, eu compreendo que os americanos estejam se perguntando se nosso esforço no Iraque valeu a pena", disse.

Não há nenhuma razão aparente para se acreditar que Bush será mais bem-sucedido agora do que foi no final do ano. A situação no Iraque deteriorou-se gravemente no último mês.

Segundo especialistas com acesso aos comandantes militares americanos no Iraque, há sérias dúvidas mesmo entre eles sobre a viabilidade da estratégia americana em meio ao que a esmagadora maioria dos americanos já teme ser uma inexorável guerra civil.

Em um discurso ontem, Bush procurou dar um retrato otimista sobre o resultado do programa de treinamento das forças iraquianas que deverão assumir gradualmente as funções de segurança hoje desempenhadas pelos mais de 130 mil soldados americanos no país e pediu aos americanos que não se deixem levar pelas "imagens de violência, fúria e desespero".

A nova tentativa do presidente para ganhar corações e mentes em casa ocorre também num momento intensamente negativo de seu governo, em que, pela primeira vez, ele se vê abandonado por seus correligionários conservadores numa questão da segurança nacional - único tópico que até agora sustentava o que lhe resta de popularidade.

Ed Rolins, um ex-conselheiro político de Ronald Reagan e respeitado estrategista republicano, disse que a rejeição sofrida por Bush, na semana passada, no caso da compra por uma estatal de Dubai das operações em seis portos americanos, representa, politicamente, um desastre talvez irreparável.

Ainda ontem, o senador democrata Russell Feingold apresentou uma proposta de moção de censura contra Bush por causa de operações de espionagem de cidadãos sem ordem judicial. Embora seja remota sua chance de aprovação, a simples apresentação da moção mostra o desprestígio de Bush. Em toda a história, apenas um presidente americano, Andrew Jackson, em 1834, teve aprovada uma moção formal de repúdio pelo Legislativo.