Título: Libanesa tentou subornar policiais
Autor: Marcelo Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2006, Internacional, p. A13

Suspeita é acusada de fraude e envolvimento em atentado que causou a morte de ex-primeiro-ministro do Líbano

Acusada da falência do banco libanês Al-Madina, uma fraude de R$ 1,2 bilhão, e suspeita de envolvimento na trama da morte do ex-primeiro-ministro do Líbano Rafic Hariri, a economista Rana Abdel Rahim Koleilat, de 39 anos, foi descoberta no Brasil por dois policiais da Delegacia Seccional de Itaquera. Os investigadores bateram na porta de Rana e ouviram-na dizer num português sofrível: "Cinqüenta, cem, 200 mil dólares? É só ligar para amigo." Foi o que bastou para que a mulher acabasse presa em flagrante por tentativa de corrupção.

Rana havia fugido do Líbano há um ano. Ao ser questionada aqui sobre o assasinato de Hariri, Rana reagiu com uma gargalhada e disse que estava no Brasil a negócios.

A executiva usava um passaporte britânico, em nome de Rana Klailat. O documento mostra que ela passou pelo Iraque, China, Turquia e República Checa antes de chegar ao Brasil - em outubro de 2005. "A embaixada britânica nos informou que o passaporte é falso", disse o delegado Murilo Fonseca Roque. A polícia apreendeu ainda R$ 14,5 mil no quarto de Rana.

Rana estava hospedada em um flat na Avenida Luiz Dumont Villares, em Santana, na zona norte de São Paulo, onde a encontraram. A polícia a descobriu após ter recebido uma denúncia feita por um homem com sotaque estrangeiro.

Depois da prisão, o cônsul do Líbano, Joseph Sayah, foi informado. "Ele nos disse que Rana é uma pessoa muito perigosa", disse o delegado Nicanor Nogueira Branco, titular da delegacia seccional.

Contra ela, há mandado de prisão no Líbano por causa da fraude bancária. Além disso, a Interpol a procurava a pedido da Comissão Internacional Independente das Nações Unidas que investiga o assassinato de Hariri, morto por um carro-bomba em Beirute, no Líbano, em fevereiro de 2005. Rana é suspeita de ter ligações com o chefe do serviço secreto da Síria. Na época, tropas sírias ocupavam o Líbano. Hariri se opunha à ocupação. Rana é suspeita ainda de lavar dinheiro para a Síria e para o Hezbollah.

O advogado de Rana, Victor Mauad, disse que ela é inocente das acusações no Brasil e no Líbano. E explicou a tentativa de corrupção como um mal-entendido: "Ela não fala português e os policiais não falam árabe." Ele vai pedir o relaxamento do flagrante e requerer o direito de asilo político para Rana.