Título: Sérvia autoriza enterro de Milosevic
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Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2006, Internacional, p. A12

Presidente diz que não deixará viúva e filho voltarem ao país para funerais; segundo'NYT', Justiça sérvia permitirá

O presidente da Sérvia, Boris Tadic, autorizou ontem o enterro do ex-ditador iugoslavo Slobodan Milosevic em território sérvio. "Não fazemos nenhuma objeção a isso", disse ele em entrevista a uma TV de Belgrado. Mas ressaltou que a escolha do local (Sérvia ou Rússia) vai depender da família.

Tadic reiterou que não vai conceder anistia à viúva, Mirjana Markovic, nem ao filho do ex-ditador, Marko, para que acompanhem os funerais no país. Ambos, acusados de abuso de poder pela Justiça sérvia, refugiaram-se em Moscou. Mas, segundo o New York Times, autoridades sérvias disseram que a ordem de prisão contra Mirjana seria removida hoje para permitir que ela participe do funeral. Uma corte de Belgrado analisará o caso hoje.

Por outro lado, o resultado preliminar da autópsia feita em Slobodan Milosevic, enfarte do miocárdio, não pôs fim às especulações sobre as causas da morte do ex-presidente iugoslavo. Ao contrário, as versões sobre suicídio e envenenamento ganharam força com a revelação de um toxicologista holandês, Ronald Uges.

Milosevic foi encontrado morto em sua cela de uma prisão em Haia, cidade onde era julgado pelo Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia (TPII) por crimes de guerra cometidos durante os conflitos da Bósnia e de Kosovo no início e meados da década de 90.

Para a promotora-chefe do TPII, Clara Del Ponte, há apenas duas hipóteses: morte natural ou suicídio.

Donald Uges teve acesso a exames de sangue realizados em janeiro com o ex-líder iugoslavo, que sofria de pressão alta e problemas cardíacos decorrentes. "Encontrei amostras de Rifampicin, um poderoso antibiótico usado no tratamento de hanseníase e tuberculose", disse o especialista holandês, para concluir: "Milosevic ingeriu deliberadamente essa droga, que anula os efeitos dos remédios para hipertensão comprometendo seu quadro clínico."

Na semana passada, o ex-presidente iugoslavo enviara uma carta escrita à mão ao chanceler russo, Serguei Lavrov, na qual diz estar sendo envenenado e pede ajuda. "Os que eu combati em defesa de meu país querem agora me silenciar", afirma ele no documento. Amigo de Milosevic, o ministro russo criticou o TPII por não autorizá-lo a tratar-se em Moscou. Lavrov pôs em dúvida o resultado preliminar da autópsia (ler ao lado).

A decisão sobre o enterro depende da Justiça. Mirjana, e o filho, Marko, temem ser detidos se forem a Belgrado. "Se não tivermos garantias do governo, vamos sepultar meu pai em Moscou." Mirjana concordou com o filho, mas disse que gostaria que Milosevic fosse enterrado em Pozarevac, terra natal dele, a 80 quilômetros de Belgrado. O Partido Socialista, do qual Milosevic foi líder máximo, propõe funerais em Belgrado, com honras de Estado. Tadic rechaçou a idéia, lembrando que Milosevic foi o grande responsável pelo desmantelamento da Iugoslávia e o mar de sangue derramado. O PS, partido hoje minoritário, reagiu. Apostando no renascimento do nacionalismo sérvio, ameaça tornar a vida do governo insustentável.