Título: MST ocupa estação de água na Bahia
Autor: Biaggio Talento
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2006, Nacional, p. A14

Sem-terra querem definição sobre divisão de lotes do Projeto Salitre

Pela segunda vez em menos de um ano, agricultores do Movimento dos Sem-Terra (MST) ocuparam na madrugada de ontem o terreno da estação de bombeamento de água do Projeto Salitre da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), em Juazeiro, norte da Bahia. Eles reivindicam o assentamento de 800 famílias e cobram uma definição do governo federal sobre a distribuição dos lotes.

Cerca de 200 famílias entraram na área, onde existem equipamentos elétricos e hidráulicos considerados perigosos pelos técnicos da Codevasf. O canal da irrigação, que está cheio, também traz risco de acidentes, principalmente para as crianças do grupo. Eles entraram carregando colchonetes e mantimentos, dando sinais de que pretendem permanecer longo tempo na estação. Mais de mil famílias são esperadas hoje. O MST quer garantir que seus integrantes sejam selecionados pelo Projeto Salitre. O Ministério da Integração Nacional ainda não definiu o modelo de ocupação e a forma de seleção dos assentados.

Previsto para ser concluído em 12 anos, o Salitre tem apenas a primeira etapa pronta - que corresponde a 2 mil hectares irrigados. Além do MST, associações de moradores da região e outras entidades têm demonstrado interesse em obter lotes.

O superintendente da Codevasf, Alcides Modesto, é um ex-deputado do PT que foi militante dos movimentos populares da região e conhece bem o problema fundiário do Vale do Rio São Francisco. "Isso tem facilitado o diálogo com o MST", disse, explicando que na invasão anterior atendeu a principal reivindicação dos sem-terra - promover encontro entre uma comissão com integrantes do grupo e o ministro Ciro Gomes. "Acredito que eles querem retomar esse contato", disse Modesto, explicando que só vai chamar a polícia para desocupar o local em último caso.