Título: CPI dos Bingos vai tentar convocar Okamotto de novo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2006, Nacional, p. A8

Requerimento que intima amigo de Lula e presidente do Sebrae será analisado hoje pela comissão

A CPI dos Bingos quer convocar mais uma vez o presidente do Sebrae, Paulo Okamotto. O requerimento que pede sua reconvocação, de autoria do senador José Jorge (PFL-PE), deve ser votado hoje na sessão administrativa da comissão parlamentar. Além disso, a CPI pretende reforçar ao Supremo Tribunal Federal (STF) o pedido de autorização para quebrar os sigilos bancário, fiscal e telefônico da Red Star, empresa de propriedade de Okamotto, referentes ao período compreendido entre 1.º de janeiro de 2002 e 31 de dezembro de 2005.

Entre os argumentos utilizados pelos senadores para justificar a necessidade de quebra dos sigilos de Okamotto e sua reconvocação está a entrevista dada pelo ex-deputado Roberto Jefferson ao Estado, publicada anteontem. Na entrevista, Jefferson afirmou que, se for quebrado o sigilo de Okamotto, a situação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode se complicar. O deputado cassado disse que o presidente do Sebrae serve de prova contra Lula da mesma forma que o Fiat Elba comprado por PC Farias ligou o ex-presidente Fernando Collor de Mello ao esquema de corrupção.

Ontem, o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) defendeu a convocação. "Agora, mais do que nunca, temos que obter os dados dos sigilos bancário, fiscal e telefônico de Okamotto", disse o parlamentar.

Amigo de Lula, Okamotto afirmou ter pago em 2004 uma dívida de R$ 29,4 mil que o presidente tinha com o PT. O dinheiro foi registrado na prestação de contas do partido de 2003. Okamotto disse que, ao pagar a dívida do presidente, seguiu a orientação do então tesoureiro do partido, Delúbio Soares.

TELEFONEMAS

Mesmo impedidos pelo Supremo de ter acesso aos sigilos do presidente do Sebrae, técnicos das CPIs dos Correios e dos Bingos combinaram esforços secretamente e descobriram 161 ligações trocadas por ele com os principais investigados no escândalo do mensalão.

O rastreamento dos peritos dá uma boa amostra da proximidade de Okamotto com o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e com o publicitário Duda Mendonça, por exemplo.

Detalhando os cruzamentos, o rastreamento mostra que Okamotto trocou pelo menos 56 telefonemas com Delúbio entre março e novembro de 2002. As ligações eram trocadas da casa ou do celular do então tesoureiro com o celular de Okamotto. Foram identificados 94 minutos de conversas.

PRIMEIRO DEPOIMENTO

Na primeira vez que prestou depoimento à CPI, em novembro do ano passado, Okamotto não conseguiu convencer os parlamentares de que havia quitado legalmente a dívida de Lula com o PT. Ele disse que quitou o débito sem informar o presidente, "para não constrangê-lo". "Foi um dos piores depoimentos na CPI, ele foi nocauteado várias vezes e só aumentou as suspeitas", criticou na época o deputado José Agripino Maia (PFL-RN).

O que mais irritou os membros da comissão, durante o primeiro depoimento, foi o fato de Okamotto não ter apresentado provas de sua versão. Ele também não conseguiu ser convincente ao sustentar que tomou a decisão de pagar a dívida, porque Delúbio foi "implacável" ao exigir a quitação de todos os débitos de Lula com o PT.