Título: Papéis revelam mais contas de Duda
Autor: Diego Escosteguy
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2006, Nacional, p. A7

Documentos enviados pelos EUA apontam a existência de seis novas contas secretas ligadas ao publicitário

Documentos sigilosos enviados pelo governo americano às autoridades brasileiras na semana passada revelam a existência de mais seis contas secretas ligadas ao publicitário Duda Mendonça no exterior. Além disso, os investigadores americanos rastrearam outra empresa mantida pelo marqueteiro fora do País, a Stuttgart Company.

A explosiva papelada remetida pelo governo americano, à qual o Estado teve acesso, mostra uma complexa rede, ligada a Duda, de contas no exterior e operações com doleiros em paraísos fiscais, que vai muito além das transações com o valerioduto. "A conta da Dusseldorf no BankBoston é só a ponta do iceberg", explica um dos investigadores. As novas informações indicam que o fluxo de dinheiro de caixa 2 ligado ao publicitário pode ser muito maior.

Os dados complicam a vida de Duda, que tem depoimento marcado para amanhã na CPI dos Correios. Até agora, só se sabia da existência de uma empresa em seu nome - a Dusseldorf - e de quatro contas nos EUA - uma no nome da Dusseldorf, outra no nome dele e as últimas tendo como beneficiárias Zilmar Fernandes Silveira, sócia do publicitário, e Eduarda Martins Mendonça, filha do marqueteiro. Todas abertas no BankBoston da Flórida.

Segundo a documentação, já foram rastreadas dez contas ligadas ao publicitário lá fora. Três das seis novas contas descobertas foram abertas no BankBoston da Flórida: uma em nome da Stuttgart Company, outra em nome de Rita de Cássia Santos Moraes, ex-mulher do publicitário, e a terceira tendo como beneficiário Eduardo de Matos Freiha, sócio do marqueteiro. As outras três pertencem à Dusseldorf, sendo uma delas no BAC Florida Bank. Não há informações sobre os bancos das outras duas.

Como confessou à CPI, Duda recebeu lá fora R$ 10,5 milhões do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, dinheiro injetado por doleiros brasileiros na já conhecida conta da Dusseldorf no BankBoston de Miami. Ele jurava que essa era a única conta sua no exterior. O dinheiro se referia ao pagamento de caixa 2 da campanha presidencial vitoriosa de Luiz Inácio Lula da Silva.

ESQUEMA

Segundo a papelada, a conta da Dusseldorf registrada no BAC tem movimentação semelhante à do BankBoston. Recebeu uma série de depósitos eletrônicos de contas-ônibus administradas por doleiros. Foi beneficiária de US$ 1.169.689,25 provenientes de doleiros, por meio de três depósitos efetuados pelas contas Diamond Comercial, Gedex International e Deal Financial Corporation, também eram mantidas no BAC.

Segundo laudo sigiloso da Polícia Federal obtido pela reportagem, pelo menos a Deal Financial Corporation, com sede no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas, tem como dono o doleiro mineiro João Bosco Assunção Neves, que também enviou dinheiro para a conta da Dusseldorf no BankBoston.

A conta de Rita Moraes no BankBoston, também fez intensas transações de lavagem de dinheiro. Num comunicado de agosto de 2005 endereçado às autoridades financeiras americanas, o BankBoston informou operações atípicas da ex-mulher de Duda com a conta-ônibus "Belém", operada pela doleira portuguesa Maria Carolina Nolasco - que foi doleira de PC Farias e acabou presa nos EUA.

A mesma conta de Rita fez transferências entre 1998 e 2002 no valor de US$ 198 mil para as contas Agata Holdings e Maximus, operadas por doleiros brasileiros no MTB Bank. As contas de Duda e de Zilmar também registram transações com os doleiros.