Título: "Nunca fui à casa do Lago Sul", sustenta Palocci
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2006, Nacional, p. A4,5,6

Ministro nega relação com atividades realizadas no local e diz que caseiro e motorista 'não estão falando a verdade'

Por meio de sua assessoria, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, reiterou o que disse à CPI dos Bingos: "Nunca foi à casa do Lago Sul e, portanto, não tem qualquer relação com as atividades realizadas na mesma." O ministro afirma que Francenildo Santos Costa, o Nildo, caseiro da mansão do Lago Sul , e o motorista Francisco das Chagas Costa, que disse na semana passada tê-lo visto na casa, "não estão falando a verdade".

Apesar das negativas de Palocci, a polícia e o Ministério Público associam seu nome a um grupo de ex-assessores que o acompanham desde o período em que administrou Ribeirão Preto.

Palocci foi prefeito duas vezes, mas o segundo mandato ele cumpriu pela metade, até 2002, quando saiu para coordenar a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência.

Entre os nomes que estão na mira de policiais e promotores de Justiça está o de Isabel Bordini, ex-superintendente do Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão Preto (Daerp), autarquia responsável pelos contratos de coleta de lixo e varrição de ruas.

Para o delegado Benedito Antonio Valencise, que dirige a Polícia Civil na cidade e comanda as investigações criminais sobre suposto esquema de corrupção envolvendo antigos aliados de Palocci, os contratos do Daerp eram um dos principais focos de fraudes e desvio de recursos públicos da gestão Palocci.

GRAVAÇÕES

Na administração petista, segundo o inquérito, que está em fase final, os contratos do lixo foram aditados irregularmente e marcados por "ordens de serviço de varrições especiais que não eram realizadas". Essas ordens eram freqüentes no período compreendido entre 2001 e 2004.

De acordo com informações do Ministério Público, gravações telefônicas "complicam muito" a situação de Isabel. As fitas estão sendo transcritas. Ela nega qualquer prática de irregularidades.

Isabel é mulher de Donizete Rosa, superintendente do Serviço de Processamento de Dados (Serpro) e ex-secretário de Governo na segunda gestão de Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto.

Rosa deixou o cargo para acompanhar o ministro. As investigações mostram seu relacionamento com outros integrantes da república de Ribeirão, como o advogado Rogério Buratti e Juscelino Dourado, ex-chefe de gabinete de Palocci no Ministério da Fazenda.

"O grupo de Ribeirão tinha um tripé que funcionava como peça-chave", declara Nicanor Lopes, vereador pelo PSDB que investiga contratos da gestão Palocci há cinco anos e fez as primeiras denúncias sobre fraudes durante os mandatos do petista.

"Buratti era a inteligência do esquema. Donizete fazia o trabalho operacional. E Juscelino promovia as reuniões, organizava tudo", ataca o parlamentar tucano.

AGENDA

De acordo com Nicanor, o grupo cresceu com a inclusão de Ademirson Ariosvaldo da Silva, ex-chefe de gabinete de Palocci na prefeitura; Vladimir Poleto, ex-diretor do Departamento de Contadoria-Geral da Secretaria da Fazenda de Ribeirão, e Ralf Barquete, morto em 2004.

"Ademirson sempre foi um tipo de secretário particular do Palocci, daquele que não desgruda, que carrega a agenda", define Lopes.

Barquete foi secretário da Fazenda de Palocci - no segundo mandato - e no governo Lula também foi para Brasília, onde ocupou o cargo de assessor especial da presidência da Caixa Econômica Federal.

Barquete e Buratti trabalharam na empresa Leão Leão, maior doadora de recursos na campanha de Palocci à prefeitura. Buratti denunciou que a empresa pagava R$ 50 mil por mês a Palocci e que o dinheiro era destinado ao PT.