Título: Mattoso terá de depor novamente
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2006, Nacional, p. A7

A Polícia Federal desconfia que o ex-presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, contou menos do que sabia no depoimento que prestou anteontem - provavelmente para proteger outros membros do alto escalão do governo - e vai intimá-lo a prestar novo depoimento. Entre os alvos protegidos por Mattoso podem estar o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e o seu assessor de imprensa, Marcelo Netto.

As primeiras avaliações, com base no cruzamento de dados da perícia com os depoimentos, indicam que houve violação do sigilo do caseiro Francenildo dos Santos Costa, o Nildo, antes de 16 de março. Ou seja, antes que Mattoso solicitasse a auxiliares uma pesquisa na conta e a impressão dos extratos.

A polícia quer saber de onde partiu a informação prévia, como ela foi obtida e com qual objetivo. Com isso, a PF pretende descobrir se Mattoso agiu por conta própria, como quis fazer crer, ou se está articulado com outros integrantes do governo.

Só depois de tirar essa dúvida o delegado Rodrigo Carneiro Gomes vai fechar a agenda dos demais depoimentos, incluindo os de Palocci e de Marcelo Netto. Citado duas vezes por Mattoso como a pessoa a quem entregou os extratos, Palocci começou a ser investigado ontem como suspeito de ser co-autor do crime.

Para apressar a apuração, Gomes quer ouvir o ex-ministro ainda nesta semana, antes que ele deixe Brasília.

O delegado deu ontem uma pausa nos depoimentos para acertar com a Justiça Federal os próximos passos do inquérito. Sua prioridade será fazer a perícia nos arquivos da Caixa que trazem o histórico dos acessos à conta do caseiro.

Até ontem, a perícia não tinha avançado porque o gerente que acessou a conta e imprimiu os extratos, Jéter Ribeiro, usou a senha de um amigo que estava em férias e, após a eclosão do escândalo, apagou as operações da memória do laptop. Pressionado pelos policiais, ele confessou que havia feito back up dos arquivos, finalmente entregues ontem.

No próximo depoimento, Mattoso terá de explicar o que o motivou a pedir a devassa na conta de Nildo. Não está claro para a polícia como o ex-presidente da Caixa obteve a primeira informação sobre valores atípicos movimentados pelo caseiro em curto espaço de tempo - R$ 38 mil, entre janeiro e março deste ano - e por que ele determinou a violação.