Título: Dólar vai chegar a R$ 1,90, prevê Mendonça de Barros
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/02/2006, Economia & Negócios, p. B10

Segundo o economista, 'não há nada no horizonte que detenha a queda nos próximos dois a três meses'

O dólar caminha para um nível de R$ 1,90 nos próximos meses e haverá um crescimento das importações acima do esperado, previu o ex-secretário de Política Econômica José Roberto Mendonça de Barros. Para ele, o câmbio chegará em março perto dos R$ 2, um nível psicológico, no qual ainda ficará um tempo, até furar a barreira. "Não há nada no horizonte que detenha a queda do dólar nos próximos dois a três meses."

Ele está preocupado com as conseqüências do câmbio para o comércio exterior. Mendonça de Barros explica que a pressão é de baixa, citando dados de saída e entrada de capital, recompra da dívida pública e a medida de desoneração de investimentos estrangeiros em títulos.

O economista argumenta que tudo isso "joga na direção de mais entrada de dólar" e cita que a única coisa que poderia deter a tendência seria um atuação mais intensa do Banco Central, "que já comprou bastante mas perdeu a guerra", ou mesmo uma queda mais forte da taxa Selic, que ninguém espera que aconteça.

Mendonça de Barros avalia que a novidade do ano, com este nível de câmbio, será o efeito sobre as importações, que correm o risco de crescer muito rapidamente. "Acho que vai ter uma virada importante, difícil de projetar, porque é uma quebra de tendência", completou.

Segundo ele, algumas companhias, mais prejudicadas com a perda de rentabilidade nas exportações, aumentaram a rotatividade de mão de obra, com a contratação de pessoal a custos mais baratos. Além de reduzir gastos, partem para importar partes e componentes, com custos menores. Já está havendo substituição de máquinas nacionais por importadas, afirmou.

O ex-secretário também disse que as empresas tendem a deixar de fabricar produtos localmente e importar produtos prontos, o que já ocorre na eletrônica, brinquedos, vestuário, ou ainda podem usar a importação para trazer itens.

"Na hora em que todo mundo vê que o câmbio está barato e vai continuar barato é racional buscar economias de custos. Quando corre todo mundo na mesma direção, pode ter a mesma surpresa que tivemos na exportação", disse, referindo-se ao fato de que desde o início da década as empresas brasileiras voltaram-se às vendas externas, em paralelo ao câmbio desvalorizado.

Ele antevê que no segundo semestre haverá um aumento de importações, queda nas quantidades exportadas e continuidade da gradual redução dos juros.

Nesse momento, poderia se chegar a um piso no câmbio, com o dólar começando a voltando com alguma valorização, não acima, porém, dos R$ 2,20, previsão do economista para dezembro.