Título: 'Política de juros altos é pacto com o diabo', diz Alencar
Autor: Clarissa Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/02/2006, Economia & Negócios, p. B6

Para o vice-presidente, o custo do capital é o grande problema do Brasil

O vice-presidente da República, José Alencar, fez ontem uma série de ataques à política econômica. Destacando os elevados juros e os custos de capital, Alencar afirmou que a política monetária (de juros) abre espaço para pensar que foi feito um "pacto com o diabo".

"A impressão que se tem com essa política monetária perversa é que nós tenhamos feito um pacto com o diabo (sic)", disse o vice-presidente, após ter participado da cerimônia de posse do novo professor titular do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da USP, Miguel Srougi.

Alencar aproveitou a comparação para dizer como acha que o problema deve ser combatido: "Na minha terra, não se mata o diabo com revólver 38, muito menos com 32. Tem que ser de 45 para cima para matar o diabo." Mas, perguntado sobre o que exatamente o diabo representa, Alencar só disse que "o diabo é uma figura sobrenatural". "Se eu soubesse quem ele é, eu ou ele estava morto há muito tempo", brincou.

O vice-presidente destacou que vem defendendo há mais de 20 anos a idéia de que a política de juros brasileira aparece como a principal causa dos problemas de distribuição de renda que o País enfrenta.

"Eu atribuo grande parte dessas dificuldades ao regime de juros que há mais de 20 anos vem, na minha opinião, transferido renda do setor produtivo para o setor financeiro", afirmou Alencar. "O custo do capital é tão alto no Brasil que impede, por exemplo, que o trabalho seja remunerado adequadamente."

Pouco antes, em seu discurso, Alencar havia endossado as declarações feitas por Srougi, que criticou a distribuição de renda no País, se comparada a mercados como o da Coréia do Sul, e cobrou o fato de o governo ter gasto R$ 157 bilhões com o pagamento de juros da dívida em uma época em que o País precisa de investimentos em educação. Uma das afirmações de Srougi que receberam o apoio do vice-presidente é que "alguma coisa está errada" no Brasil. Alencar, por sua vez, acrescentou que a média da taxa básica de juros real gira em torno de 1,5% no mundo, enquanto no Brasil esse número chega a 12%. 'Isso significa uma taxa oito vezes superior àquela com que o mundo remunera os capitais que dormem", afirmou.

Apesar de ter batido na questão econômica, Alencar também aproveitou para tecer uma série de elogios ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além de defender a reeleição de Lula, o vice-presidente o caracterizou como uma pessoa que possui 'uma sensibilidade social aguda" e é "incapaz de fazer alguma coisa errada". "Eu não acredito, eu tenho segurança de que ele vai se reeleger", concluiu.