Título: CNI contesta números do IBGE
Autor: Renata Veríssimo, Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/02/2006, Economia & Negócios, p. B5

Para entidade, indústria cresceu menos em dezembro

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) contestou ontem os dados da produção industrial relativos a dezembro de 2005, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o chefe da Unidade de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, o crescimento de 2,3% em dezembro na comparação com novembro foi superdimensionado.

A CNI ressalta que dados apurados por ela própria, assim como dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), não apontam para uma recuperação tão vigorosa como a apurada pelo IBGE. "O importante é a tendência, e nós não estamos tendo uma recuperação da indústria tão grande assim", afirmou Castelo Branco. "Corre o risco de em janeiro os dados (do IBGE) mostrarem um encolhimento na atividade industrial, que não é real. E isso pode prejudicar as decisões de política monetária", ponderou.

A distorção, segundo Castelo Branco, aparece no cálculo chamado pelos técnicos de "dessazonalizado". Esse cálculo torna os meses iguais, para poderem ser comparados. A CNI não questiona a pesquisa do IBGE, mas sim a forma como o instituto "dessazonalizou" o resultado de dezembro.

Ele explica que dois fatores pesaram para que o IBGE apurasse um resultado tão diferente. Em primeiro lugar, dezembro de 2005 teve dois dias úteis a mais do que nos anos anteriores, já que as festas de final de ano caíram num domingo. Esse efeito, segundo a CNI, não foi considerado pelo IBGE em seu cálculo dessazonalizado. "Dois dias significavam 10% a mais", argumentou Castelo Branco. Assim como no ano passado, em dezembro de 1994, que também teve dois dias a mais, o crescimento dessazonalizado foi maior que nos outros anos.

Em segundo lugar, a CNI avalia que o IBGE utilizou, para chegar ao resultado dessazonalizado, uma série histórica muito longa, que considera um período anterior ao real. A entidade argumenta que, após o real, o perfil da produção industrial mudou. Por isso, a série teria de ser mais curta. A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), lembrou Castelo Branco, recomenda que se utilizem séries de 7 a 10 anos.

A economista Isabella Nunes Pereira, da Coordenação de Indústria do IBGE, disse que os resultados não estão superdimensionados. Segundo Isabella, no que diz respeito aos dias úteis, a metodologia do instituto não inclui ajuste sazonal de feriados fixos, como Natal e Ano Novo, mas apenas de feriados móveis. "Acho que a CNI superdimensionou o efeito calendário do ajuste deles", acrescentou.