Título: Simon denuncia pressão para isentar Lula
Autor: Cida Fontes e Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2006, Nacional, p. A10

O senador Pedro Simon (PMDB-RS) disse ontem, em discurso no plenário, que o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), está sofrendo pressões e estaria havendo até ameaças contra sua família para não incluir o nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no relatório final da comissão, que deve ser apresentado hoje.

Simon afirmou que as informações sobre as pressões e ameaças lhe foram transmitidas por um prefeito de uma cidade do Paraná que esteve ontem em Brasília e acrescentou que o relator teria pedido proteção.

Serraglio esteve desaparecido do Congresso ontem. Foi sintomático. Na véspera da apresentação do relatório, os aliados do Palácio do Planalto trabalharam durante todo o dia para tentar desqualificar o teor do documento. A estratégia se baseia na convicção de que Serraglio está decidido a não ceder às pressões governistas.

Por essa versão, o relator apresenta hoje um documento incisivo com mais de 100 pedidos de indiciamento de envolvidos no mensalão, incluindo os ex-ministros José Dirceu e Luiz Gushiken e citações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ontem, a informação era que Serraglio também pretendia pôr no relatório uma nova lista com o nome de 50 a 60 assessores de parlamentares que teriam ido à agência do Banco Rural em Brasília onde o mensalão era pago ou teriam recebido recursos das empresas e corretoras ligadas ao valerioduto.

A inclusão da nova lista deve criar um grande tumulto hoje na Comissão, durante a leitura do relatório. À exceção do presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), e Serraglio, ninguém tinha tido acesso à relação com outros parlamentares. A aposta do Planalto é que o surgimento de novos nomes, sem ouvir as explicações dos envolvidos, às vésperas do fim da CPI, será um fator que ajudará o governo a inviabilizar a votação do relatório, prevista para ocorrer na próxima semana.

Além disso, os governistas estavam certos de que a iniciativa de Serraglio de pedir o indiciamento dos envolvidos no mensalão acabará desacreditando o trabalho da CPI dos Correios.

Preocupado com a imagem do Congresso, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), saiu a campo para defender junto ao senador Delcídio Amaral que o conteúdo do relatório seja menos conflituoso. Serraglio que, inicialmente havia cedido aos apelos para um texto "light", teria voltado atrás e decidido pedir ao Ministério Público o indiciamento dos ex-ministros Gushiken e Dirceu, de estrelas do PT, como José Genoino, Sílvio Pereira e Delúbio Soares, além de 18 parlamentares.

"Há uma disputa irracional em torno desse relatório. Se isso persistir, aqueles que têm receio de investigação serão beneficiados e corremos o risco de não ter relatório nenhum", observou ontem o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), sub-relator de contratos da CPI dos Correios. Cardozo é dos governistas que defendem a criação de uma categoria intermediária de envolvidos, que permita salvar do pedido de indiciamento Gushiken e Dirceu.

Líderes governistas da Câmara e do Senado reuniram-se para contar os votos que têm na CPI dos Correios e tentar montar estratégias de derrubada do relatório de Serraglio.

Antes da leitura do relatório final, Delcídio Amaral vai se encontrar com os líderes governistas da Câmara. "Há ainda uma tentativa de negociarmos o relatório", disse o líder do PSB na Câmara, Paulo Balthazar (RJ). Independentemente das negociações, os petistas já começaram a elaborar um relatório paralelo ao de Serraglio.

A oposição também está confiante que detém a maioria dos 32 votos da CPI para aprovar o relatório de Serraglio.