Título: 'Perguntaria quem mente'
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2006, Nacional, p. A11

Pioneiro nas denúncias de corrupção no PT, o economista Paulo de Tarso Venceslau foi convocado pela CPI dos Bingos para uma acareação a ser realizada ontem contra Paulo Okamotto, a quem acusa de operar um caixa 2 das campanhas de Luiz Inácio Lula da Silva desde a década de 90. Atendendo a um pedido de Okamotto, o ministro Eros Grau, do Supremo Tribunal Federal , dispensou-o de comparecer à sessão - e Paulo de Tarso acabou perdendo a viagem.

A ida do economista a Brasília teve um aspecto pitoresco: Paulo de Tarso e o ex-ministro José Dirceu se encontraram de manhã no mesmo avião que deixou São Paulo. Não se falaram nem se cumprimentaram. Eles eram amigos nos anos 60 quando atuavam no movimento estudantil paulista, mas romperam depois que Paulo de Tarso denunciou um suposto esquema de corrupção no PT.

Por curiosidade, o Estado perguntou a Paulo de Tarso quais questões poderiam ser colocadas numa acareação. "Seria útil perguntar a ele quem está mentindo," conta Paulo de Tarso. O economista, que era secretário de Finanças de São José dos Campos , alega que Okamotto freqüentava a cidade para fazer finanças para o partido. Okamotto sempre negou isso. Mas Paulo de Tarso tem depoimentos de uma sindicância interna do PT, na qual até a então prefeita da cidade, Ângela Guadagnin, relata que Okamotto lhe pediu uma lista de empresas que prestavam serviços à prefeitura. "Eu gostaria que lhe perguntassem em nome de quem ele circulava pela prefeitura", acrescenta Paulo de Tarso, que há anos denuncia que Okamotto levantava recursos para as campanhas de Lula.

Militante e fundador do PT, Paulo de Tarso foi secretário de Ângela Guadagnin, celebrada na semana passada pela dança da pizza após a absolvição do deputado João Magno (PT-MG).

"Confesso que o caso não me surpreendeu. Ela sempre foi marionete de quem manda no partido. Mas ela já teve mais personalidade. Quando me demitiu, num ato forçado por causa d as denúncias, pediu desculpas pelo que fazia e até chorou. Tinha pelo menos dor de consciência. A dança mostra que agora a coisa desandou de vez", argumenta.