Título: Gasoduto do Cone Sul terá participação de oito países
Autor: Kelly Lima
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/02/2006, Economia & Negócios, p. B4

Além de Brasil, Argentina e Venezuela, comitê vai contar com Bolívia, Peru, Chile, Paraguai e Uruguai

O comitê multilateral de estudos para implantação do projeto do gasoduto do Cone Sul vai contar com representantes da Bolívia, Peru, Chile, Paraguai e Uruguai a partir de março, além dos atuais parceiros Brasil, Argentina e Venezuela. A informação foi dada ontem pelo ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, após encerramento de reunião do grupo no Rio para estabelecer o cronograma dos estudos.

Segundo o ministro, o projeto, que prevê um gasoduto de 9 mil quilômetros entre a Venezuela e a Argentina, atravessando o Brasil, tem orçamento na casa dos US$ 20 bilhões. "É o maior existente no mundo."

Para o ministro, a participação desses outros países é importante, já que o projeto vai "permitir que todos sejam atendidos, em abastecimento ou em mercado para seu produto". "Será uma grande rede interligada em todo o Cone Sul, a exemplo do que são hoje as linhas de transmissão no sistema elétrico brasileiro."

Ainda segundo Rondeau, a possibilidade levantada nesta semana pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, de o gás ser fornecido a um custo mínimo subsidiado de US$ 1 por milhão de BTU, é "apenas uma sinalização de boa vontade para com o projeto, e não uma premissa para que se realize".

O ministro explicou que, somente durante a avaliação do grupo de estudos é que será determinado um valor a ser pago pela molécula de gás natural.

Segundo uma fonte que participou da reunião no Rio, a comitiva da Venezuela teria retirado a proposta e sugerido um preço de US$ 1,40. O representante venezuelano, Jose Alberto Avila, não confirmou a proposta. "Este custo terá de ser analisado em conjunto com todos os países e somente poderá ser considerado após a definição do traçado e da capacidade deste duto."

O comitê multilateral deverá entregar até 7 de julho um relatório completo detalhando o projeto, incluindo, além do valor do combustível, as reservas disponíveis, o mercado a ser atendido, o traçado e as formas de financiamento.

"Como mais de 70% do duto passa pelo Brasil, pode ser que tenhamos de arcar com uma parte maior dos investimentos, mas a forma como isso vai ocorrer e qual será a divisão ainda não foram definidas", disse Rondeau. Duas possibilidades em estudo são a criação de um fundo financiador ou a abertura de um banco que receberia os recursos dos bancos de desenvolvimento de cada um dos países integrantes.

O ministro confirmou que a idéia é atender o mercado brasileiro até 2012. Para isso, as obras teriam de começar ainda no final de 2006. Indagado sobre a complexidade para obtenção de licenças ambientais para viabilizar o projeto, Rondeau afirmou que não conta com isso.

"É um projeto de grande porte, que visa à interligação de todo o Cone Sul. Portanto terá de ser avaliado pelos benefícios que trará no longo prazo. Ele soluciona o problema de abastecimento de energia de todo o Cone Sul", disse o ministro.