Título: Clérigo dá US$ 1 milhão por cabeça de cartunista
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/02/2006, Internacional, p. A28

Anúncio foi feito no Paquistão, onde ocorreram novos protestos e a Dinamarca fechou sua embaixada

Um clérigo muçulmano ofereceu ontem US$ 1 milhão e um automóvel a quem matar "o autor dinamarquês" das caricaturas de Maomé que revoltaram o mundo islâmico. "Quem ofende o profeta merece morrer", sentenciou Mohamed Yousef Qureshi, líder espiritual muçulmano de Peshawar, cidade do noroeste do Paquistão, aparentemente desconhecendo que cada uma das 12 caricaturas difundidas em setembro pelo jornal dinamarquês Jylland-Posten tem um autor distinto.

"Se o Ocidente oferece uma recompensa pelas cabeças de Osama bin Laden e Ayman al-Zawahiri (lugar-tenente do líder da Al-Qaeda), também posso anunciar um prêmio para quem matar o homem que cometeu sacrilégio contra o santo profeta", insistiu o clérigo que para chegar ao montante da recompensa pôs dinheiro do próprio bolso e obteve a colaboração de membros da comunidade. As charges foram reproduzidas recentemente por jornais europeus em nome da liberdade de imprensa.

O anúncio coincidiu com novas manifestações em Karachi e Lahore, que levaram a Dinamarca a fechar temporariamente a embaixada em Islamabad, a capital do Paquistão.

Os distúrbios mais graves ocorreram em Karachi, onde a polícia usou granadas de gás lacrimogêneo para dispersar a multidão. Milhares de manifestantes bloquearam também as rodovias de acesso à cidade.

Mercados e lojas, escolas e universidades amanheceram fechados em Karachi e só alguns ônibus e trens funcionaram. No dia anterior, o Jaamat-i-Islami, movimento político mais influente do Paquistão, havia convocado uma greve de protesto contra a Dinamarca e a publicação das charges.

Em Lahore, no leste, palco de violentas manifestações desde segunda-feira, as autoridades policiais ordenaram a prisão do clérigo Hafiz Mohammad Saeed, fundador do grupo radical Lashkar-e-Taiba, que prometera fazer inflamado sermão nas orações de ontem. "Temíamos novas explosões de violência, por isso o prendemos", informou um porta-voz do Ministério do Interior.

Pelo mesmo motivo, as forças de segurança prenderam 130 membros do grupo fundamentalista Shabab-e-Milli, que haviam convocado uma manifestação contra a Dinamarca e as caricaturas na cidade de Multan, centro do país.

Diante desse quadro, a Dinamarca decidiu fechar temporariamente a sede de sua embaixada no Paquistão. "O clima é de muita insegurança, o que impede nossa representação de levar a cabo suas tarefas consulares", disse Lars Thuesen, porta-voz da chancelaria dinamarquesa. Os interesses dinamarqueses serão atendidos pela Embaixada da Alemanha.

O governo dinamarquês já havia fechado suas representações diplomáticas no Líbano, Síria, Irã e Indonésia e repatriado funcionários.

O porta-voz da chancelaria voltou a aconselhar os cidadãos dinamarqueses que estão no Paquistão a regressar imediatamente à Europa