Título: Ministro tenta atenuar críticas à política de juro
Autor: Beatriz Abreu e Ribamar Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2006, Economia & Negócios, p. B1

O novo ministro da Fazenda, Guido Mantega, se esforçou ontem para desfazer a imagem de velho crítico da política de juros, mas não teve muito êxito. Ele afirmou que o Banco Central (BC) vem cortando o juro básico há seis meses e já há efeitos visíveis no aquecimento do comércio e da indústria. "Estamos no caminho certo", disse.

Em seguida, deixou transparecer a sua opinião quanto ao ritmo do corte do juro. "Não sei se seria o caso de mudar alguma gradação. Aliás, não seria nenhum pecado mortal se houvesse mudança de dosagem."

Na entrevista após a posse, Mantega foi perguntado várias vezes sobre a sua opinião a respeito da política de juros e procurou tranqüilizar. "Eu não sou crítico da política monetária", disse. "Sou a favor do sistema de metas de inflação, esse é um método eficiente."

Depois, ele explicou as críticas que fez até recentemente. "Me manifestei quanto ao que considerei, talvez, um excessivo zelo", disse, acrescentando que outros especialistas fizeram a mesma crítica. Agora, avaliou, o contexto é outro porque o BC já está cortando os juros.

Suas afirmações servem para sustentar que ele não terá problemas com o BC. Mas, desde o início do governo, Mantega foi um dos mais ativos integrantes da turma do "fogo amigo", que atacava a austeridade fiscal e monetária de Antonio Palocci. Por isso, a sua ida para a Fazenda alimenta especulações sobre mudanças na direção do BC.

Além de puxar a economia para um crescimento vigoroso neste início de ano, Mantega avaliou que o corte no juro básico está alimentando uma "verdadeira revolução no crédito" do Brasil.

Ele lembrou que, historicamente, o total de empréstimos representava perto de 25% do Produto Interno Bruto (PIB). "Já ultrapassamos os 30%", disse. O ministro afirmou que o objetivo é elevar esse montante para de 40% a 50% do Produto Interno Bruto em "crédito abundante e barato".