Título: Préval negocia formação de governo no Haiti
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Fonte: O Estado de São Paulo, 18/02/2006, Internacional, p. A24

Presidente eleito se reúne com líderes políticos rivais para alcançar maioria no Parlamento

O presidente eleito do Haiti, René Préval, começou ontem mesmo a reunir-se com líderes políticos rivais para formar uma coalizão que lhe dê maioria no Parlamento. Na casa de sua irmã, Préval recebeu o quarto colocado na eleição do dia 7, Chavannes Jeune, e líderes do movimento Fusion - todos ferozes adversários do presidente eleito.

O segundo e o terceiro colocados na eleição, respectivamente Leslie Manigat e Charles Baker, ainda se queixam do arranjo que permitiu a Préval ser proclamado presidente sem a necessidade de um segundo turno. As queixas devem alimentar o confronto entre seus movimentos políticos e o futuro governo e impedir a formação de um governo de unidade nacional.

Por meio de um processo eleitoral recheado de indícios de fraudes, Préval obtinha pouco mais de 48% dos votos, quando seriam necessários mais de 50% para a vitória no primeiro turno. Usando como paralelo a legislação belga, a corte eleitoral provisória distribuiu os votos em branco proporcionalmente entre os candidatos, fazendo com que a votação de Préval chegasse a 51,15%.

Préval, de 63 anos, havia governado o Haiti de 1996 a 2001 e é considerado um político próximo de Jean-Bertrand Aristide - o presidente esquerdista deposto em 2004 e exilado na África do Sul. Durante a campanha, Préval fez declarações dúbias sobre o eventual retorno de Aristide ao país.

Desde a queda de Aristide, o Haiti é cenário conflitos armados diários entre criminosos comuns e bandos favoráveis e contrários ao ex-presidente. Sob o comando do Brasil, 9 mil soldados da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah) tentam controlar a violência.

"Acredito que o sr. Préval tem um papel muito importante para convidar todos os haitianos a participar do futuro do país para ter um diálogo aberto com todos os setores", disse ontem o enviado especial da ONU, o chileno Juan Gabriel Valdés, referindo-se ao desejo da entidade de que se forme um gabinete de união nacional.

Os EUA, por seu lado, mostram-se dispostos a trabalhar com Préval, mas manifestam o temor de que o futuro governo permita a volta de Aristide, considerado pelo Departamento de Estado americano o responsável pela erupção da violência no país. "Aristide é um homem do passado", disse o porta-voz do departamento, Sean McCormack. "Acreditamos que o novo governo haitiano deva olhar para o futuro, e não para o passado."

"Trabalharemos com o governo do presidente Préval", declarou na quinta-feira, durante uma audiência na Câmara dos Representantes, a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice. "Vamos ver que recursos suplementares necessitaremos para ajudar o novo governo", completou Condoleezza.