Título: Dólar e risco país sobem e Bolsa cai na estréia de Mantega na Fazenda
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2006, Economia & Negócios, p. B4

O primeiro dia de Guido Mantega como ministro da Fazenda foi marcado por intenso mau humor e especulações no mercado financeiro. Logo na abertura dos negócios, risco e dólar dispararam, refletindo a indicação do ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na noite anterior, após o fechamento do mercado. A Bolsa e os títulos de dívida também acompanharam o stress e caíram. Para completar o quadro negativo, o banco JP Morgan reduziu sua recomendação de investimentos em títulos brasileiros por causa da saída de Antonio Palocci e seu secretário-executivo, Murilo Portugal.

No decorrer do dia, os investidores deram uma pequena trégua e os ativos recuperaram um pouco as perdas com as indicações de que o presidente do Banco Central permaneceria no cargo. Havia o temor de que Henrique Meirelles deixasse o comando da autoridade monetária por ter desentendimentos com Mantega.

Mesmo assim, o mercado terminou o dia com desempenho negativo. O dólar, que atingiu a máxima de R$ 2,228, fechou em queda de 1,75%, para R$ 2,209. O risco país terminou em 243 pontos, com alta de 2,97%. Na máxima do dia, ele atingiu 245 pontos, refletindo o recuo dos títulos brasileiros negociados no exterior. O A-Bond caiu 1,41% para 108,15% do valor de face e o Global 40, 1,01%, para 128%.

Da mesma forma, a Bolsa de Valores de São Paulo oscilou bastante durante o dia e terminou com forte queda de 2,55% para 36.382 pontos, influenciada também pelas incertezas em relação aos juros americanos, afirmou o gerente de Renda Fixa do Banco Prosper, Carlos Cintra. "Ben Bernanke (o presidente do Federal Reserve) demonstrou preocupação com o preço da energia sobre a inflação, o que influenciaria na decisão sobre a velocidade de corte do juro básico."

Para os próximos dias, a expectativa é de contínua volatilidade, afirmam os analistas. Embora o discurso de Lula e Mantega tenha sido pró-mercado, com promessas de que não haverá mudança na política econômica, os investidores querem ver na prática a atitude do novo ministro da Fazenda.

O primeiro teste será a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), que definirá a nova Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), disse o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa. É público que Mantega quer uma redução mais agressiva da taxa. "Todos vão olhar com atenção além do normal para a reunião."

Na avaliação de Carlos Cintra, do Prosper, Mantega terá de mostrar agora que vai manter a mesma estrutura de Palocci. "A tendência é de maior prudência neste momento. O maior risco, agora, é uma possível saída de Meirelles."

Para a sócia da consultoria econômica MB Associados Tereza Fernandez, mais volatilidade deve vir por aí. "Ainda vamos ter alguns sustos pela frente. Não sabemos, por exemplo, quais nomes vão compor a equipe do novo ministro", afirmou, antes do convite de Mantega ao economista Luciano Coutinho, da Unicamp, para o lugar de Murilo Portugal, na secretaria-executiva.

Na opinião de Tereza, no entanto, o mercado financeiro não deve sair de controle, já que os fundamentos econômicos do País continuam bons e a liquidez do mercado internacional ainda é alta.

"Ninguém está em pânico, mas há um ajuste nos portfólios de investimentos", disse.