Título: 'Espero que o País cresça mais'
Autor: Márcia De Chiara e Rita Tavares
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2006, Economia & Negócios, p. B6

Antônio Ermírio de Moraes, empresárioEntrevistaO empresário Antônio Ermírio de Moraes, diretor-superintendente do Grupo Votorantim, um dos maiores conglomerados industriais privados brasileiros, acredita que a troca de Antonio Palocci por Guido Mantega no comando do Ministério da Fazenda não deverá provocar alterações bruscas na atual política econômica. Mas vê com esperança as promessas do novo ministro de um crescimento de 4,5% a 5% para a economia este ano, embora não tenha certeza se Mantega tem experiência para ser um bom ministro.

Como fica a economia depois da substituição de Palocci por Mantega no Ministério da Fazenda? Espero que não mude. Acho que o empresário tem que acreditar mais no Brasil e investir mais. O Brasil hoje investe só 1% daquilo que é investido no mundo. É muito pouco.

O que é preciso fazer para sair dessa situação? O brasileiro tem que mudar de mentalidade. Nós somos juristas por excelência, gostamos de emprestar dinheiro a juros, o que não leva ninguém a lugar nenhum. Temos que investir em produção, em bens de capital, e fazer a coisa andar para que o País possa crescer muito mais. Não podemos continuar crescendo apenas 1% ou 2% ao ano.

A troca do ministro da Fazenda deve favorecer esse processo? É difícil de avaliar. Eu espero que sim, e rezo para isso. Não tenho nenhuma queixa contra o ministro Palocci. Ao contrário. Eu o procurei umas duas ou três vezes e ele sempre foi muito compreensível, muito correto e muito bom conosco. Também, eu nunca pedi nada a ele, só ia expor o que nós estávamos fazendo e o que nós íamos fazer, o que é uma coisa só, é acreditar no Brasil e investir, fazer com que este país cresça mais. O empresário não vem aqui para conversa fiada, vem para investir, criar riqueza e não ficar escondido com medo do que possa acontecer. Problema de risco todos nós temos. Quem não os tem?

O que o senhor acha do novo ministro? Eu o conheço muito pouco. Nas poucas vezes em que estivemos juntos, ele foi muito correto. É muito calado, mas me parece um homem bom. Agora, não sei se ele tem experiência. Que Deus o ilumine para que possa ser um bom ministro.

Era esperada a saída do ministro da forma como foi? Achei muito rápido. Afinal de contas, o ministro Palocci era uma garantia de que a política econômica continuaria de forma correta. De repente, inventaram uma porção de coisas aí que eu não quero comentar. As fofoquinhas acabaram colocando o coitado do Palocci numa situação difícil. Ele, naturalmente, como homem de bem, pediu demissão e foi embora.