Título: Mudanças causam incerteza sobre 2007
Autor: Márcia De Chiara e Rita Tavares
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2006, Economia & Negócios, p. B6

A saída do ministro da Fazenda Antonio Palocci criou um cenário de incerteza sobre como será o programa econômico do próximo governo, caso o presidente Lula seja reeleito. "A dúvida maior não é tanto em relação ao curto prazo, mas o que vai ser o programa do segundo mandato do governo Lula, que antes da mudança seria conduzido pelo ex-ministro Palocci. Agora isso está em aberto e aí é que a perda será mais séria", afirma o economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Associados.

Segundo ele, essa incerteza a médio prazo afeta, de certa forma, a economia real, especialmente no caso dos investimentos. "Se os empresários tinham alguma dúvida em investir, agora terão mais uma razão para aguardar o ano que vem", pondera o economista. De toda forma, ele ressalta que a volatilidade dos mercados deve aumentar até as eleições. "O que deve acalmar os mercados serão os atos do novo ministro da Fazenda, Guido Mantega."

Essa também é a avaliação é da consultoria A.C.Pastore & Associados, do ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore. Segundo relatório da consultoria, mais do que declarações, Mantega vai precisar de "ações consistentes e corretas" para convencer o mercado de que manterá as linhas gerais da política econômica, herdada do ex-ministro.

O primeiro teste do novo ministro será amanhã, quando o Conselho Monetário Nacional (CMN) se reúne para decidir a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) dos próximos três meses, que atualmente é de 9% ao ano, diz Mendonça de Barros. Quando ocupava a pasta do Planejamento e a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Mantega criticou o baixo crescimento econômico, defendeu a redução da Selic e da TJLP e criticou o déficit nominal zero. "Essa é a imagem que ficou no mercado", diz o economista-chefe da Sul América, Newton Rosa, ponderando que agora Mantega "usa um novo chapéu".

De acordo com o relatório A.C.Pastore & Associados, os objetivos eleitorais do presidente Lula poderão impor um freio a eventuais "heterodoxias" de Mantega e de sua equipe. "O elemento estabilizador da política econômica não repousa nas crenças pessoais de Mantega, mas sim nos objetivos políticos de Lula de ganhar a próxima eleição", diz o relatório.

A probabilidade de mudanças no curto prazo é pequena, concorda Rosa, da Sul América. "O principal ativo eleitoral do presidente Lula são os resultados da política econômica, e isso não será mexido." Apesar dessa possibilidade, a Pastore Associados acredita que os riscos cresceram, o que eleva a volatilidade dos mercados, pondo dúvidas sobre o comportamento da inflação, da taxa de câmbio, das taxas de juros e do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).