Título: Levy antecipa saída e vai para o BID
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Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2006, Economia & Negócios, p. B7

Um dos homens fortes do Ministério da Fazenda e guardião ferrenho do caixa do governo e do ajuste fiscal, o secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, confirmou ontem que deixará o cargo para assumir a vice-presidência de Finanças e Administração do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). A sua saída já era esperada antes mesmo da demissão de Antonio Palocci, mas o anúncio oficial causou apreensão no mercado financeiro.

O afastamento de Levy e do secretário-executivo do ministério, Murilo Portugal, trouxe incertezas sobre o futuro do ajuste fiscal do governo. A maior preocupação é com o risco de afrouxamento dos gastos. Levy era o principal anteparo dentro da Fazenda das pressões para a ampliação das despesas do orçamento. Representava, como ninguém no governo, o próprio `rosto¿ do arrocho fiscal implantado pela equipe de Palocci desde a posse do presidente Lula.

Junto com Levy também deixará o cargo o seu secretário-adjunto, José Antônio Gragnani, que comandava a área do Tesouro responsável pela administração da dívida de mais de R$ 1 trilhão do governo em títulos.

Apesar dos embates públicos no passado recente com Guido Mantega, Levy foi político ontem e preferiu não fazer críticas. Ao contrário, procurou transmitir confiança de que a política fiscal será mantida. Segundo ele, a sua saída agora foi uma 'coincidência¿.

Levy foi o secretário mais polêmico da equipe econômica pelo seu jeito muitas vezes irônico de falar e de marcar posição pela imprensa. O anúncio seria feito na reunião do BID que acontecerá em Belo Horizonte no próximo final de semana. Mas, apesar dos apelos do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) para que ficasse mais um tempo, o secretário informou que desde ontem já não estava mais assinando os atos administrativos do Tesouro. A Mantega também não interessava a permanência de Levy.

Levy acumulou uma série de inimizades dentro e fora da Esplanada dos Ministérios. A mais recente delas foi justamente com Guido Mantega. Em entrevista ao Estado, na semana passada, Mantega atacou duramente Levy afirmando que o secretário não estava ¿sintonizado¿ com as diretrizes do governo Lula de priorizar os gastos sociais. O motivo da crítica pública do ministro, então presidente do BNDES, foi a divulgação de um estudo preparado pelo secretário alertando para o impacto nas contas públicas do aumento das despesas com o pagamento de benefícios sociais por conta da elevação para R$ 350,00 do salário mínimo. Esse não foi o primeiro embate do secretário com Mantega. No ano passado, Levy bateu de frente com ele por causa da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP). Já com a ida acertada para BID há alguns meses, Levy fez seguidos alertas para a necessidade de melhoria da política fiscal. A deterioração das contas públicas, com o aumento dos gastos permanentes, era nos últimos temas a sua maior preocupação.

Segundo ele, a redução da carga tributária e uma queda mais acelerada dos juros só poderiam ocorrer se houvesse uma melhora clara da qualidade dos gastos públicos.

Os confrontos com a diretoria do Banco Central também forma freqüentes. Nos bastidores, o secretário criticava a política monetária. Dizia que o BC errou na dosagem de juros.

Como responsável pela administração da dívida pública, o secretário sentiu o peso dos juros no aumento do endividamento, apesar dos esforços da sua equipe para melhora o seu perfil e reduzir a participação de títulos corrigidos pela Selic ¿ curiosamente, a mesma crítica que Mantega fazia ao BC.