Título: Ruralistas vão contestar reservas
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/02/2006, Nacional, p. A19

Federações da agricultura de 7 Estados vão à Justiça contra a criação de unidades de conservação ambiental

As federações da agricultura dos Estados do Pará, Acre, Amapá, Amazonas, Rondônia, Roraima e Tocantins decretaram guerra contra o governo federal. Elas vão apresentar à Justiça pedidos de revogação da série de atos com os quais o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criou, há poucos dias, o maior conjunto de unidades de conservação ambiental do País, com uma área de 64 mil km2, no Pará. Paralelamente, estão mobilizando a população das pequenas cidades que ficam dentro daquela área para um protesto em Brasília.

Segundo o presidente da Federação da Agricultura do Pará, Carlos Fernando Xavier, o objetivo é levar 5 mil pessoas à capital federal. Além de protestar, querem provocar os parlamentares da região, para que fiquem mais atentos aos interesses dos ruralistas.

De acordo com Xavier, as recentes decisões do governo federal, associadas à criação de grandes reservas indígenas, engessam a economia da região e atropelam as comunidades locais, que não são consultadas. Ele e seus colegas de outros Estados decidiram enfrentar o governo durante a 1ª Reunião das Federações da Agricultura da Região Norte, em Belém, nos dias 29 e 30 de janeiro. Redigiram na ocasião a chamada Carta de Belém, que foi reproduzida no site da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), a maior do País.

O texto reaviva a idéia de que haveria uma conspiração internacional "contra o desenvolvimento econômico da Amazônia, sob o argumento de que a região deve ter seus recursos naturais preservados para usufruto dos países ditos desenvolvidos". Ainda segundo a carta, os mentores dessa estratégia ignoram a realidade de 21 milhões de brasileiros que vivem na região e "poderão ser relegados a uma vida miserável e sem esperança".

As ações de engessamento, dizem as federações, estariam sendo executadas por ONGs indigenistas e ambientalistas, com o apoio do Conselho Mundial de Igrejas Cristãs, sediado na Suíça. Para o presidente da Federação da Agricultura do Pará, faz parte da estratégia dessas ONGs aumentar os números sobre violência na região e explorar a figura de mártires: "Eles se utilizam de figuras nacionais, como fizeram com Chico Mendes e estão fazendo agora com a irmã Dorothy Stang."

Xavier acredita que a pecuária pode se expandir sem riscos para o ambiente: "Queremos gerar riquezas. Estamos fazendo no século 21 o que os bandeirantes fizeram nos séculos 17 e 18, que foi a incorporação de grandes áreas improdutivas ao setor produtivo do País."

DESESPERO

No Ministério do Meio Ambiente, o secretário de Biodiversidade e Florestas, João Paulo Capobianco, qualificou de "desesperada" a atitude dos ruralista. "Na região da qual estamos falando, todas as terras são públicas", disse. "Desde que se começou a falar na possibilidade de asfaltar a BR-163, verificou-se ali a maior grilagem de terras já vista na Amazônia. Em algumas regiões houve um aumento de 500% no índice de desmatamento."

Segundo Capobianco, o objetivo do governo é frear a devastação e apoiar o desenvolvimento da vocação da região, "que não é o pasto, mas o manejo sustentado da floresta". Ele assinalou ainda que só 15% da área é de proteção integral. "Os outros 85% são para uso sustentável."