Título: Lula anuncia R$ 200 mi para produtores de vinho
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/02/2006, Nacional, p. A6

Presidente libera pacote de agrados a vinicultores em região que registra o maior índice de desaprovação ao governo, segundo pesquisas eleitorais

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou ontem, na serra gaúcha, mais um pacote de agrados. Dessa vez, os beneficiados foram os produtores de vinhos de uma das regiões onde tem maior rejeição popular, segundo as últimas pesquisas eleitorais. Fiel a seu novo lema de "colher o que plantou", Lula disse em Caxias do Sul, na abertura da 76ª Festa da Uva, que voltava à cidade para "prestar contas" e apresentar o que fez.

Ele evitou falar de política. Concentrou-se nos elogios à região e no que tinha para anunciar. "Em 2004 terminei meu discurso dizendo que voltaria em dois anos para prestar contas do que tivéssemos feito em atenção ao setor. E é para isso que estou aqui hoje", disse, antes de anunciar a liberação de R$ 200 milhões em crédito para as vinícolas comprarem a produção de uva, com juros de 8,5% e 23 meses para pagar. O pacote foi bem recebido, mas Lula não emocionou a platéia.

Em Flores da Cunha, não havia faixas de apoio ou protesto e, em um dia normal de trabalho, menos de cem pessoas esperavam pelo presidente na saída do Salão Paroquial, onde almoçou com produtores.

REJEIÇÃO

Pesquisa CNT/Sensus divulgada esta semana mostrou que a região Sul é onde, hoje, o presidente poderia enfrentar dificuldades especiais em uma reeleição: 46,3% dos entrevistados desaprovam o governo Lula - o maior índice entre as regiões. Na serra gaúcha, o PT vem perdendo espaço. Nas eleições de 2004, foi o PMDB que levou as prefeituras dos principais municípios da região, inclusive Flores da Cunha e Caxias do Sul - o segundo, governado pelo PT por dois mandatos seguidos.

Durante o almoço, Lula pareceu mais interessado em conversas paralelas com o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, que o acompanhou o tempo todo. Apesar da possibilidade de se enfrentarem na próxima eleição presidencial, o clima entre ambos foi bem cordial.

Já em Caxias do Sul, a passagem foi rápida. Lula passeou pelos pavilhões da festa acompanhado da primeira-dama Marisa, de Rigotto, dos ministros da Agricultura, Roberto Rodrigues, do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, e da Casa Civil, Dilma Roussef, além de boa parte da bancada gaúcha na Câmara dos Deputados.

Na abertura oficial da festa, o presidente chegou a reclamar dos discursos - era o seu terceiro no dia, depois de ter ouvido outros oito. "A Festa da Uva vai ser bem melhor no dia em que não se precisar ouvir discurso", disse Lula ao iniciar o seu. "Mas faz parte da liturgia da festa."

Em Flores da Cunha, pediu mais empenho dos produtores. "No mundo dos negócios, hoje, ninguém tem pena de ninguém", afirmou. "Eu acho que, na questão do vinho, o Brasil tem de ser competitivo. Ao invés de ficar lamentando o vinho argentino no Brasil, nós temos de colocar nosso vinho na Argentina, temos de colocar nosso vinho no Chile."