Título: Juro nos EUA é o maior desde 2001
Autor: Suzi Katzumata
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2006, Economia & Negócios, p. B8

Em um decisão bastante esperada, o Comitê de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) aumentou os juros básicos da economia dos Estados Unidos para 4,75% ao ano, os mais altos desde abril de 2001. A primeira reunião liderada pelo presidente do Fed, Ben Bernanke, aumentou, pela 15ª vez desde junho de 2004, os juros em 0,25 ponto porcentual e manteve a porta aberta para novas altas. Alguns analistas previam que o ciclo de aperto pudesse estar perto do fim. Mas não foi isso que o novo presidente indicou. "A mensagem de Bernanke é simples: nada mudou, o Fed vai continuar cuidando da inflação tão seriamente quanto na época do Maestro (Alan Greenspan, ex-presidente do Fed)", disse o economista-chefe do grupo FTN Financial, Chris Low.

O comunicado divulgado após dois dias de reuniões informou que os membros do Fed "acham que podem ser necessários mais ajustes na política monetária". Esses ajustes, segundo eles, poderiam ser necessários "para manter em equilíbrio as possibilidades de um crescimento econômico sustentável e a estabilidade dos preços".

O Fed também destacou que a desaceleração no ritmo de crescimento da economia registrada no último trimestre de 2005 (só 1,6%), "parece ter refletido, em sua maior parte, fatores temporários ou especiais", provavelmente em referência os furacões Katrina e Rita.

Mas, de acordo com o comunicado, "o crescimento econômico se recuperou fortemente no atual trimestre, mas parece provável que irá se moderar para um ritmo mais sustentável".

O texto ressaltou que "até agora os aumentos nos preços da energia e de outras matérias-primas parecem ter tido um efeito modesto no núcleo da inflação" (parte do índice de preços que exclui as mudanças nos preços dos combustíveis e dos alimentos, considerados muito voláteis).

Segundo analistas, o primeiro comunicado de política monetária produzido sob o comando de Bernanke trouxe duas importantes mudanças na retórica do Fed: uma visão mais positiva sobre o crescimento econômico dos Estados Unidos preocupação com a alta dos preços de outras commodities, não apenas energia

No comunicado de ontem, na questão da pressão inflacionária, o Comitê de Mercado Aberto do Fed acrescentou essas preocupações: "Até agora, a alta dos preços de energia e outras commodities parecem ter apenas um efeito modesto sobre o núcleo da inflação, os ganhos existentes na produtividade ajudaram a manter o crescimento dos custos da mão-de-obra em xeque e as expectativas de inflação permanecem contidas."

O comunicado continua dizendo que "o possível aumento na utilização de recursos, combinado com os preços elevados de energia e outras commodities, tem potencial para aumentar a pressão inflacionária".

"O Fed está numa época de incertezas, particularmente na questão da inflação", declarou o economista-chefe do grupo de serviços financeiros Wachovia, John Silva.

"O tamanho das conseqüências da inflação sobre os preços ao consumidor, vinculada à energia, continua sendo um mistério, enquanto que a fixação de preços em uma economia globalizada é uma experiência nova para os consumidores e o comércio varejista", completou Silva.

O comunicado conservador de Ben Bernanke, com o indício de que as altas dos juros vão continuar, caiu como um balde de água fria nos mercados americanos, já que deixam claro que, a curto prazo, os ajustes monetários continuarão, o que muda significativamente as projeções de juros para 2006.

O índice Dow Jones, o mais importante de Wall Street, caiu 0,85% e o Nasdaq, onde é negociada a maior parte das ações de empresas de tecnologia e internet, recuou 0,48%.