Título: Serra renuncia hoje para assumir candidatura ao governo de S. Paulo
Autor: Ana P. Scinocca, Rodrigo Pereira e Silvia Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/03/2006, Nacional, p. A4

José Serra formaliza hoje sua renúncia ao cargo de prefeito da maior cidade do País exatamente um ano e três meses depois de ter assumido o posto e anuncia a sua pré-candidatura ao governo de São Paulo. Serra marcou para o período da tarde uma reunião com seu secretariado, na qual anunciará à equipe que o vice Gilberto Kassab (PFL) passa a ser o novo prefeito da capital paulista.

Em seguida Serra dará uma entrevista à imprensa para explicar sua opção. Ontem à tarde, ele entregou o primeiro - e último - balanço de sua atual administração ao Tribunal de Contas do Município (TCM).

Apesar de a oficialização da saída ter ficado para hoje, o anúncio da candidatura de Serra ao Palácio dos Bandeirantes acabou antecipado de forma inesperada ontem, numa gafe do secretário municipal de Educação, José Aristodemo Pinotti, durante a inauguração de uma escola na região central.

Num deslize em seu discurso, Pinotti confirmou a saída de Serra da Prefeitura. "É uma alegria grande estar aqui no último dia do governo do prefeito José Serra. Ele se desincompatibiliza amanhã (hoje)", afirmou o secretário da Educação. Ao lado de Pinotti, Serra arregalou os olhos, surpreso. Constrangido, Pinotti se desculpou com o chefe: "Perdão, perdão. Cometi uma grande gafe, prefeito." E tentou contornar o erro: "Eu queria dizer que amanhã é o meu último dia."

POSTURA

Apesar do anúncio antecipado feito por Pinotti, Serra manteve a atitude de não falar sobre o assunto. "Como vocês vêem, o Pinotti só lê jornal, porque isso não foi conversado com ninguém do secretariado", desconversou, após a gafe do auxiliar.

Ao falar com os jornalistas, Pinotti disse que seu comentário tinha sido induzido por reportagens. O prefeito, no entanto, não negou nem confirmou sua candidatura ao Palácio dos Bandeirantes. Pinotti deixa o cargo hoje para disputar um novo mandato para a Câmara dos Deputados.

O anúncio da pré-candidatura de Serra ao governo estadual no último dia do prazo de desincompatibilização põe fim a uma novela que já durava um mês. Desde o carnaval, tucanos começaram a especular com a candidatura de Serra ao governo estadual. Depois que o nome do governador Geraldo Alckmin foi escolhido para concorrer à Presidência, no dia 14 de março, a especulação cresceu.

A escolha de Serra aconteceu, de início, por intensa pressão do partido e do próprio Alckmin. A pressão se reforçou com uma pesquisa de opinião que trouxe Serra como favorito absoluto no Estado, com mais do que o quádruplo dos votos de seus potenciais concorrentes do PT. Um dos principais incentivadores da candidatura Serra ao governo estadual foi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

A partir daí, a cada dia o prefeito recebia cada vez mais mensagens de apoio, inclusive de tucanos de fora do Estado. A decisão de disputar esbarrava apenas nas dúvidas de Serra em deixar a Prefeitura antes do tempo e para um projeto que, em princípio, não era prioritário para ele. A definição veio apenas na semana passada, após nova romaria de apoios. Contra a parede, mas confiante no novo desafio, Serra diz hoje "sim" a mais uma campanha.

A única insatisfação com a saída de Serra é do vereador José Aníbal, que se negou a retirar sua pré-candidatura ao governo do Estado e ameaça disputar na convenção. Ontem o presidente do PSDB paulista, Sidney Beraldo, afirmou que após a desincompatibilização Serra será, indiscutivelmente, o candidato do PSDB. "Não haverá prévias", assegurou.