Título: No adeus do governador, a cobrança de promessas
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/03/2006, Nacional, p. A6

No penúltimo compromisso como governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), a partir de hoje com "dedicação exclusiva" à pré-candidatura à Presidência, enfrentou duas manifestações de moradores que lhe cobraram, de modo contundente, promessas não cumpridas. As reclamações públicas foram feitas ontem à tarde em Vargem Grande Paulista, na Grande São Paulo, onde o governador esteve para assinatura de contrato para execução de obras de esgoto.

Morador há dez anos da região, Edimilson Ricardo, de 42 anos, enfrentou uma garoa fina à tarde para advertir Alckmin. "Há três anos e meio (quando disputou o governo paulista, em 2002) o senhor veio aqui e disse que o esgoto era prioridade. O senhor já é até candidato de novo e nada aconteceu", gritou o manifestante, interrompendo a fala do governador. Alckmin não se intimidou. Explicou que "apenas uma parte pequena" do que deveria ter sido feito no local foi realizada devido à falta de verbas. "Agora conseguimos recursos e a obra começa em abril", afirmou.

Logo em seguida, mais críticas. Dessa vez, coube a uma moradora identificada apenas como Nelma reclamar da qualidade da água da região. "As crianças têm passado mal", disse. Alckmin cobrou explicações, na hora, dos técnicos da Sabesp que o acompanhavam no evento e ouviu que o problema mencionado pela manifestante pode ter relação com a quantidade de ferro na água. A solução vem em até seis meses, prometeu.

Mais tarde, em entrevista, o governador disse que as críticas eram normais e não se sentiu incomodado, ainda que a saia-justa tenha ocorrido no dia da sua despedida. "Isso é assim mesmo. Esta é a beleza da democracia. Vida pública não é para ficar isolado do povo, ficar em ar condicionado, no gabinete fechado, carpete. Vida pública é amassar barro. Aí a gente erra menos. Ouve mais, corrige mais depressa", frisou. "A Sabesp levou aqui um merecido puxão de orelha", prosseguiu.

Antes do protestos em Vargem Grande, Alckmin inaugurou a extensão da Linha 2 do Metrô - entre as estações Ana Rosa e Imigrantes - e a 24ª unidade do restaurante popular Bom Prato, no Jardim Ângela. Ao inaugurar a obra "vice-campeã" de sua gestão, a ampliação da linha do Metrô - a "menina dos olhos" é a recém-inaugurada obra no Rio Tietê - Alckmin admitiu que mal deixava o governo e já sentia saudades.

Disse que o dia era "de grande emoção" e admitiu ter cometido falhas. "Certamente não fiz tudo e cometi erros. Mas suamos a camisa; dei o melhor de mim." Ao falar sobre o ciclo que se encerrava - quase 12 anos no governo paulista, como vice-governador e governador -, definiu-o como uma "corrida de revezamento: cada um cumpre uma etapa".

Ao ser questionado sobre quais erros cometera, destacou a demora na desativação da Febem. "Eu gostaria de ter começado, e reconheço que poderia ter começado mais cedo, porque aí já estaria entregando, a descentralização da Febem. Eu imaginava que pudesse ter já desativado o Tatuapé", disse, anotando que ocorreram "muitos problemas com terrenos, embargos e questões de natureza judicial", que acabaram atrapalhando o plano.

Acompanhado do prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), Alckmin admitiu que leva desvantagem em relação ao seu novo rival, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pois o adversário disputará a eleição já estando no Palácio do Planalto."É lógico que no sistema de reeleição quem está no cargo tem enorme benefício." Apesar da constatação, Alckmin destacou que confia em seu taco e que sua eleição pode representar "um novo tempo" para o País. A extensa agenda terminou já à noite, com a inauguração do sistema de iluminação do Tietê.