Título: PFL assume orçamentos de R$ 97 bi em S. Paulo
Autor: Angélica Santa Cruz
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/03/2006, Nacional, p. A7

Na manhã de ontem, os pefelistas Claudio Lembo e Gilberto Kassab conversaram pelo telefone e combinaram de fazer uma reunião na segunda-feira, no Palácio dos Bandeirantes. No evento, ambos posarão juntos para fotos, já como o novo governador do Estado e novo prefeito de São Paulo. De perfil discreto e com expressão bem maior nos bastidores do que nas urnas, eles entram pela porta lateral no comando dos dois principais cargos paulistas e de suas cifras gigantescas - orçamento de R$ 80,6 bilhões, no Estado, e R$ 17,2 bilhões, no município.

Para quem vê de fora, é mais uma das demonstrações de sobrevivência política dadas pelo PFL, o partido que em 21 anos de existência revela incrível capacidade de se manter perto do poder. Na leitura dos integrantes da legenda, no entanto, é o primeiro grande resultado das tentativas feitas nos últimos anos para tentar fazer o partido existir de fato no maior colégio eleitoral do País. "É um processo político que começou com o rompimento da aliança com o malufismo e continuou com os líderes correndo o interior para reestruturar o partido", destaca Lembo.

O PFL chega ao poder em São Paulo por força de uma aliança política - não por uma vitória pura nas urnas. Mas seus representantes comemoram uma operação iniciada há seis anos anos para fazer um dos quatro maiores partidos do País conseguir ser forte no Estado mais rico, importante e que nas eleições de 2004 representou 22% de todo o eleitorado.

E à multidão de pessoas que observa o golpe de sorte do partido ao substituir os titulares do PSDB e assumir R$ 9,1 bilhões para investimentos no Estado e R$ 2 bilhões no município, já há resposta pronta dentro da legenda.

"A chegada de Lembo e Kassab ao poder não é obra do acaso. Nós reorganizamos o partido, fizemos alianças programáticas, ganhamos as eleições e agora vamos mostrar que estamos prontos para governar", afirma o deputado estadual e presidente da Assembléia Legislativa, Rodrigo Garcia, um dos políticos encarregados pela direção nacional do PFL de fazer uma faxina na imagem fisiológica que anos de adesão a sucessivos governos deram ao partido - e, na avaliação interna, ameaçava a sua sobrevivência a longo prazo.

À luz do número de votos, a legenda ainda mantém seu perfil de hegemonia no Nordeste - região onde, nas eleições de 2004, teve 1,8 milhão de votos a mais do que o PT, cravou 1,2 milhão na frente do PSDB e 1 milhão a mais do que o PMDB. Feitas as contas, o PFL paulista tem hoje o governador, 1 senador, 75 prefeitos, 7 deputados federais, 7 deputados estaduais e 800 vereadores. Na contagem das urnas, não é uma turma com resultados acachapantes. Mas há quem defenda que a base eleitoral vem se expandindo.

Um exemplo muito usado: em 1998, Gilberto Kassab se candidatou a deputado federal e teve 100 mil votos. Rodrigo Garcia conseguiu 70 mil eleitores na candidatura a deputado estadual. Em 2000, na mesma dobradinha, Kassab teve 240 mil votos. Garcia conseguiu 140 mil. "Foi um crescimento silencioso de votos vindos dessa máquina renovada do partido", define Garcia.

Em reuniões da legenda, é comum ouvir a piada de que, quem diria, o PFL hoje tem até cartilha ideológica. "É de centro, liberal e com consciência social", define Lembo. Dar ao partido uma roupagem doutrinária foi uma das estratégias usadas para montar o que chamam de "novo PFL paulista", um agrupamento mais organizado e forte o bastante para dar as cartas nas estratégias nacionais.

As outras foram mais práticas. Desde 2000, quando resolveu lançar Romeu Tuma para candidato à Prefeitura, o PFL vem fazendo um pente-fino em suas representações no Estado. Kassab se transformou em homem forte do presidente do partido, Jorge Bornhausen, com carta branca para mudar a legenda. Percorreu cidades do interior com ânimos definidos por um integrante do partido como "de inquisidor". Zerou filiações e depois promoveu uma espécie de recadastramento. Destituiu todos os diretórios e depois abriu outros.

"É um erro dizer que somos um partido de vices. Podem esperar: em outubro de 2008 vamos vir com muitos quadros", diz Lembo. Poder, o novo PFL paulista já tem.