Título: Moderados recorrem a Lula para evitar pizza
Autor: Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/03/2006, Nacional, p. A8

Parlamentares da ala moderada do PT e da oposição defenderam ontem a interferência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a aprovação do relatório final da CPI dos Correios. Os moderados estão certos de que é preciso um sinal claro do presidente Lula para que a CPI dos Correios não termine em pizza, sem a aprovação de um documento conclusivo. O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), foi encarregado de tentar convencer Lula da necessidade de aprovar um relatório.

Delcídio Amaral pretendia conversar com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para pedir seu apoio à tese de que não é bom para o governo a CPI dos Correios terminar sem a aprovação de um documento. A avaliação dos moderados petistas é que o governo sairá ainda mais chamuscado da crise do mensalão, caso se exponha para derrubar o relatório apresentado pelo deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). Os aliados do Planalto possuem hoje uma maioria frágil na CPI, mas não teriam votos suficientes para aprovar o relatório paralelo que vem sendo elaborado por uma ala mais radical do PT.

Pré-candidato ao governo de Mato Grosso do Sul, Delcídio Amaral está empenhado pessoalmente para que a CPI não termine sem uma conclusão para as investigações. Moderados tanto do PT quanto de PSDB e PFL temem, no entanto, que as negociações para tentar chegar a um consenso se caracterizem como um "acordão" para salvar envolvidos no mensalão.

"O grande problema é que se corrigirmos o relatório e fizermos ajustes vão dizer que é pizza", observou um petista, favorável ao acordo entre governo e oposição para aprovar um relatório final. "Não existe hipótese de acórdão."

"Vence quem tem maioria", defende a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), favorável a decidir no voto os pontos mais polêmicos. Ela e o líder petista na Câmara, Henrique Fontana (RS), defendem o relatório paralelo, não o de Serraglio.

Radicais dos partidos de oposição, porém, querem fazer um relatório mais duro, com a proposta de pedido de indiciamento do presidente Lula - o que, na prática, pode inviabilizar a aprovação de um documento final para a CPI.

"Só vamos conseguir votar um relatório se houver concessões de ambos os lados", observou o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), que foi sub-relator de fundos de pensão da comissão. "Temos de buscar que a CPI tenha um relatório final aprovado. O que quero é que o relatório chegue ao Ministério Público. De tudo que não está no relatório, o Ministério Público acabará indo atrás", disse o deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS), sub-relator de normas de combate à corrupção.

Tanto governistas quanto oposicionistas alertaram ontem que o relatório de Osmar Serraglio apresenta erros, principalmente na parte que trata dos pedidos de indiciamento. Os governistas argumentaram que não há como enquadrar o ex-ministro José Dirceu em corrupção ativa, uma vez que não existem provas de que ele tenha "comprado" parlamentares para votar com o governo.

Na avaliação dos governistas, o ex-ministro Luiz Gushiken também não poderia ser enquadrado por tráfico de influência e corrupção ativa.