Título: Relatório paralelo do PT nega mensalão e revê indiciamentos
Autor: Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/03/2006, Nacional, p. A8

O PT fará de tudo para derrubar o relatório preparado pelo deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) para a CPI dos Correios e começou a preparar outro texto para levar a votação na comissão. No relatório paralelo, os petistas não reconhecerão a existência do mensalão e vão rever parte dos 124 pedidos de indiciamento.

Sob o argumento de que há erros jurídicos no documento, o PT quer retirar da lista de sugestões de indiciamento os ex-ministros Luiz Gushiken e José Dirceu, além de ex-dirigentes do partido.

"No nosso relatório, tem caixa 2 com repasse ilegal pelo PSDB de Minas Gerais e de Delúbio Soares (ex-tesoureiro do PT) no nosso governo. No nosso ponto de vista, é o correto", disse ontem o líder do PT na Câmara, deputado Henrique Fontana (RS). Ele reuniu-se com o presidente do partido, deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), e parlamentares petistas que integram a CPI dos Correios. Os petistas estão divididos: parte defende um relatório totalmente novo e outra ala quer tentar chegar a um consenso em cima do texto de Serraglio.

Na avaliação dos petistas, não houve mensalão da forma descrita pelo relator. "O mensalão, na concepção de um poder comprando o outro, não existe. Reconhecemos que houve caixa 2, mas não ocorreram votações azeitadas por dinheiro", afirmou a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC).

No relatório paralelo do PT, que deverá ser apresentado na terça-feira, haverá alterações em relação aos pedidos de indiciamento de envolvidos no escândalo. "Vamos concluir a partir de um critério universal de indiciamento que valha para aliados e oposição", disse Fontana. "Não podemos tratar adversários de forma diferente de aliados políticos", observou.

Integrante da CPI dos Correios, o deputado Jorge Bittar (PT-RJ) argumentou que o substitutivo petista vai "restabelecer uma linha temporal" no relatório apresentado anteontem por Serraglio.

Para o PT, os problemas que ocorreram no governo anterior, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, foram diluídos no trabalho de Serraglio. "O valerioduto não começou agora; o mecanismo dos empréstimos, os contratos de publicidade e os repasses a partidos não começaram agora", afirmou Bittar. "A gênese do valerioduto começou em 98. É fundamental restabelecer isso no relatório", sentenciou.

Para os petistas, não é aceitável que o caso do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) seja tratado de forma secundária. "Azeredo foi caixa 2. Delúbio também foi caixa 2. Por que tratar de forma diferente? São essas inconsistências que queremos corrigir para que seja um relatório substantivo", disse Bittar.

O petista afirmou também que, no substitutivo, haverá gradações nos indiciamentos de acordo com a responsabilidade das pessoas envolvidas.

O deputado criticou o tratamento que foi dado por Serraglio ao banqueiro Daniel Dantas. No relatório final, Serraglio aponta a Brasil Telecom, que era controlada pelo banqueiro, como uma das fontes do valerioduto. "Ele (Dantas) foi um dos grandes agentes da prática de corrupção, foi investigado e o seu nome praticamente sumiu do relatório", afirmou Bittar.

Na avaliação dos petistas, o documento de Serraglio teve viés político e não foi baseado em critérios técnicos e jurídicos. Uma equipe do PT está trabalhando 24 horas por dia, segundo o líder Fontana, na elaboração do substitutivo. A base será o próprio parecer de Serraglio. "Queremos um relatório equilibrado. Ele não pode ser a perseguição política a um partido", disse o líder do PT.