Título: Contrariado, Lula perde 8 ministros
Autor: Tânia Monteiro, Leonencio Nossa e Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/03/2006, Nacional, p. A9

Fracassaram os últimos apelos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para conter a debandada no ministério quatro dias após a queda de Antonio Palocci (Fazenda). Diante do prazo fatal para que todos os candidatos às eleições de outubro deixem os cargos hoje, oito ministros sairão da equipe. Candidato à reeleição, Lula queria manter o titular de Relações Institucionais, Jaques Wagner, responsável pela articulação política, mas o petista preferiu disputar o governo da Bahia. Em seu lugar entrará o ex-presidente do PT e ex-ministro da Educação Tarso Genro, conforme antecipou o Estado.

Em rápida entrevista no início da noite, Tarso disse que vai buscar o diálogo com todos os parlamentares. "Eu não reconheço a expressão baixo clero", afirmou. "Vou me relacionar com todos os partidos, vou trabalhar para agregar." Tarso previu que o ano continuará "tenso". "Assumo uma missão de Estado e não costumo falar previamente em dificuldades, mas sei que a tarefa será difícil".

Lula passou o dia de ontem, de manhã até a noite, conversando com os ministros-candidatos. Sem anteparo no Executivo para rebater os ataques da oposição, ele também tentou segurar o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes - outro nome experiente na seara política. Ciro, no entanto, não abriu mão de concorrer a deputado federal, atendendo a pedido de seu partido, o PSB. No seu lugar deverá entrar o secretário-executivo, Pedro Brito.

Além de Wagner e Ciro, deixarão hoje a equipe os ministros José Alencar (Defesa), Alfredo Nascimento (Transportes), Saraiva Felipe (Saúde), Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), Agnelo Queiroz (Esporte) e José Fritsch (Pesca).

Alencar voltou a ser lembrado para repetir a dobradinha de 2002 e ser novamente vice na chapa de Lula. Quando ele saiu da audiência com o presidente, por volta das 19h30, a informação era de que o general Francisco Albuquerque - comandante do Exército que deu uma carteirada para atrasar um vôo comercial - assumiria interinamente a Defesa, pelo sistema de rodízio das Forças Armadas.

CONFUSÃO

Quase três horas depois, no entanto, o nome de Waldir Pires, chefe da Controladoria-Geral da União, apareceu na agenda de hoje de Lula. Waldir é cotado para ministro da Defesa. Ele estava ontem à noite em Salvador e foi chamado na última hora para uma audiência com o presidente, ao meio-dia.

Na noite de ontem, a confusão em torno da reforma era tanta que ministros-candidatos estavam apreensivos. Motivo: queriam saber se a exoneração seria realmente publicada no Diário Oficial da União de hoje porque, se constasse apenas de uma edição extra, poderia haver contestação na Justiça Eleitoral. Foi por esse motivo que o Planalto decidiu recorrer à solução da interinidade nos casos em que o nome do substituto não estava definido.

Alfredo Nascimento, do PL, vai se candidatar ao governo do Amazonas ou ao Senado e há uma acirrada disputa entre os liberais para a sua vaga. Ele gostaria que o sucessor fosse o atual secretário-executivo, Paulo Sérgio Passos, mas existem outros dois postulantes: o senador João Ribeiro, pelo PL de Tocantins, e o diretor-geral do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT), Mauro Barbosa.

O Ministério da Saúde também terá novo comandante. O mineiro Saraiva Felipe deverá concorrer a deputado e entregou o cargo a Lula. Até a noite, dois nomes estavam de olho na vaga, ambos do PMDB: o secretário-executivo José Agenor Álvares da Silva e Paulo Lustosa, indicado pelo ex-presidente José Sarney.

Nos demais ministérios há menos polêmica em relação à sucessão. Miguel Rossetto (PT), que cuida da reforma agrária, entrará no páreo para disputar uma vaga no Senado e deve ser substituído pelo secretário-executivo, Guilherme Cassel. José Fritsch, por sua vez, pretende concorrer ao governo de Santa Catarina pelo PT.