Título: Okamotto foge de intimação, diz relatório da PF
Autor: Eduardo Kattah e Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/03/2006, Nacional, p. A11

O presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Paulo Okamotto, disse ontem, em Belo Horizonte, que vai recorrer a "todas as possibilidades legais" para garantir sua "ampla defesa" na CPI dos Bingos. O amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem tentado se esconder para não ser intimado na sede do Sebrae, em Brasília.

A CPI quer convocar Okamotto para acareação com o ex-secretário de prefeituras petistas Paulo de Tarso Venceslau, marcada para terça-feira na CPI dos Bingos.

A CPI quer saber de onde veio o dinheiro com o qual Okamotto diz ter quitado uma dívida de R$ 29 mil de Lula com o PT. O presidente do Sebrae é apontado por Venceslau como operador de um caixa 2 montado em prefeituras petistas. A acareação entre os dois estava prevista para a última terça-feira, mas Okamotto conseguiu suspendê-la com uma liminar - a quarta a seu favor - do Supremo Tribunal Federal (STF). As outras três impedem a comissão de quebrar o seu sigilo bancário, fiscal e telefônico.

Segundo comunicado do escrivão da Polícia Federal José Bráulio Rodrigues, lido ontem pela presidente da comissão, senador Efraim Morais (PFL-PB), em Brasília, a dificuldade para encontrar Okamotto começou na portaria do Sebrae, já que funcionários tentaram impedi-lo de subir à presidência. Ao finalmente endossar o aviso da convocação, a secretária Janaina Lopes escreveu: "O destinatário está em viagem de trabalho devendo retornar somente na próxima semana." Junto à assinatura, o horário, 17h34.

O escrivão constatou que a secretária não escrevera no aviso a palavra "recebido", como é de praxe. Ele voltou à sala da presidência e viu Okamotto indo em direção de seu gabinete.

Tentando justificar o fato, o advogado de Okamotto, Luis Justiniano Fernandes, terminou complicando o caso mais ainda. Disse que a secretária se enganara, pensando que Okamotto tivesse ido a Belo Horizonte no vôo das 17h12 e não no das 17h55.

Da tribuna do Senado, Efraim mostrou que Okamotto não conseguiria sair do Sebrae depois das 17h34 e chegar ao aeroporto, distante cerca de 20 quilômetros, a tempo de pegar o vôo das 17h55. "Ele desrespeitou o Congresso, o Supremo e a Polícia Federal."

Ao ser abordado por jornalistas após participar de um seminário em Belo Horizonte, Okamotto insistiu que não abre mão da "garantia a uma ampla defesa". Perguntado se pretende participar da acareação, foi evasivo. Demonstrando irritação, disse somente que quer garantir seus "direitos constitucionais". "Todas as possibilidades legais que eu puder recorrer para garantir os meus direitos de mostrar a verdade como ela é, eu vou recorrer."

Ele ressaltou que não havia ainda sido notificado sobre a convocação da CPI e observou que vai discutir a estratégia de defesa com seus advogados. "A matéria da acareação são as ilações que o Paulo de Tarso faz à minha pessoa e nós vamos esclarecer, uma por uma, se houver, se ele fizer alguma ilação ou alguma acusação."

A estratégia de Okamotto irritou até os petistas. O senador Tião Viana (PT-AC) disse que tal gesto "é um ato reprovável em todos os sentidos".