Título: Palocci alega stress para não depor
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/03/2006, Nacional, p. A12

O depoimento do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, EM princípio marcado para hoje, foi cancelado ontem por seu advogado, José Roberto Leal, sob a alegação de que seu cliente está com problemas de saúde. Ontem, a Polícia Federal ouviu o diretor jurídico da Caixa Econômica Federal, Antônio Carlos Ferreira, que estava com o então presidente do banco, Jorge Mattoso, no momento em que ele recebeu o extrato da conta do caseiro Francenildo dos Santos Costa, o Nildo.

No meio da tarde de ontem, Leal falou por telefone com o delegado do caso, Rodrigo Carneiro Gomes, e pediu o adiamento do depoimento. O advogado enviou ainda um comunicado por fax à PF dizendo que seu cliente não poderia comparecer por problemas médicos causados por stress. Ele se comprometeu a enviar atestado médico, o que não tinha ocorrido até o início da noite. Se o documento não chegar até as 10 horas de hoje, Palocci será intimado novamente.

Leal também disse a Carneiro que ele não poderia estar presente no depoimento de seu cliente, pois tinha audiência no mesmo horário. Ele afirmou que na próxima semana, provavelmente na terça ou na quarta-feira, o ex-ministro já estará bem o suficiente para depor.

Na manhã de quarta-feira, quando a intimação foi entregue na casa do ex-ministro, os agentes o encontraram tirando sangue para fazer exames. Leal achou que não seria bom Palocci depor agora, já que ele próprio não conhece o caso.

O diretor jurídico da Caixa confirmou que estava com Mattoso quando ele recebeu o extrato da conta do caseiro. Em entrevista ao Estado, há duas semanas, Nildo desmentiu Palocci, que afirmava nunca ter estado na casa alugada pela república de Ribeirão. Logo depois, a Caixa quebrou ilegalmente o sigilo bancário do caseiro.

ENVELOPE E JANTAR

Ferreira afirmou que estava jantando com Mattoso, quando o consultor Ricardo Schumann chegou e entregou ao ex-presidente da Caixa um envelope pardo. Logo depois, Mattoso falou ao telefone. Ferreira diz que não sabia o que havia no envelope nem para quem foi a ligação.

Se não bastasse o inquérito em Brasília, Palocci também deve ter problemas em sua cidade natal. O delegado seccional de Ribeirão Preto, Benedito Antônio Valencise, tentará marcar hoje, com o auxílio da PF, o depoimento de Palocci para a próxima semana. Valencise está priorizando o depoimento do ex-ministro para concluir, até meados de abril, o inquérito que apura superfaturamento em contrato de lixo, peculato, corrupção de agentes públicos, falsidade ideológica e formação de quadrilha na gestão de Palocci.

O delegado quer ouvi-lo em Ribeirão, onde Palocci foi prefeito entre 2001 e 2002, mas não descarta ir a Brasília. Palocci teria chefiado o esquema de corrupção no contrato do lixo de Ribeirão, segundo apontam as investigações comandadas por Valencise. O delegado disse várias vezes que os cinco crimes estão comprovados e deverá indiciar o ex-ministro, além de outros investigados, como o sucessor de Palocci na prefeitura, Gilberto Maggioni (PT), e outros assessores diretos, incluindo também ex-diretores da Leão Leão.