Título: López Obrador mantém dianteira
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Fonte: O Estado de São Paulo, 23/02/2006, Internacional, p. A14

Pesquisa mostra esquerdista na liderança para a eleição de julho; apoio de Aznar a governista tumultua campanha

CIDADE DO MÉXICO

O candidato esquerdista à presidência mexicana, Andrés Manuel López Obrador, segue liderando a preferência nas pesquisas, segundo uma sondagem divulgada ontem pelo jornal Milenio. López Obrador, ex-prefeito da Cidade do México, do Partido da Revolução Democrática (PRD), tem 36% das intenções de voto, 1 ponto porcentual a menos que na última pesquisa divulgada pelo jornal, em janeiro. O candidato do governista Partido Ação Nacional (PAN), Felipe Calderón, tem 31% - mesma porcentagem obtida por ele na pesquisa anterior. Também com 31% está o candidato do Partido Revolucionário Institucional (PRI), o ex-governador de Tabasco Roberto Madrazo, que subiu 1 ponto em relação à última sondagem.

Mas, além das cifras da pesquisa, um novo componente tem abalado nos últimos dias a campanha para as eleições presidenciais de 2 de julho: a presença no México do ex-primeiro-ministro espanhol, José María Aznar, que declarou explicitamente apoio a Calderón. O artigo 33 da Constituição mexicana diz que "cidadãos estrangeiros não podem de nenhuma maneira imiscuir-se em assuntos do país".

Durante um fórum denominado Encontro com a Sociedade Mexicana, Aznar declarou na terça-feira que o México terá de escolher "entre a garantia que são Felipe Calderón e o PAN e a incerteza, a aventura e a demagogia". O político espanhol iniciou recentemente uma ofensiva contra o que acredita ser o crescimento do populismo na América Latina. "Espero e desejo que Calderón seja o novo presidente do México, pelo bem de todos os mexicanos e pelo bem do país", afirmou Aznar.

López Obrador reagiu: "Estou muito tranqüilo e muito confiante porque o povo do México está consciente e já não aceita recomendações de nenhum príncipe estrangeiro sobre como deve votar."

O porta-voz do governo mexicano, Rubén Aguilar, disse ontem que o Ministério do Interior informaria Aznar oficialmente sobre a proibição. Já a assessoria da campanha de Calderón disse que não faria nenhuma declaração sobre o incidente.

BAIXA NO PRI

A pesquisa do Milenio foi a mais favorável a Madrazo nas últimas semanas. Outras sondagens, como a dos jornais Reforma e El Universal, punham-no em terceiro lugar, vários pontos abaixo de López Obrador. Ontem, um dos coordenadores da campanha do PRI, Bernardo de la Garza, abandonou a disputa. De la Garza é dirigente do Partido Verde Ecologista Mexicano (PVEM), que se coligou ao PRI para a eleição presidencial. "Estou convencido de que minha decisão de participar de uma candidatura diferente da do meu partido não foi a melhor nem a mais condizente com o eleitorado que sempre me apoiou", justificou De la Garza.

O candidato do PRI - partido que governou o México por mais de sete décadas até 2000 - também pode ser prejudicado por um escândalo. Gravações divulgadas pela mídia local indicam que um governador do partido, Mario Marín, de Puebla, confabulou com o empresário Kamel Nacif para prender uma jornalista, Lydia Cacho - que, numa reportagem, apontou Nacif como membro de uma rede de prostituição infantil em Cancún.