Título: Polícia Federal indicia ex-tesoureiro do PL
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/02/2006, Nacional, p. A11

Lamas, que recebeu R$ 1,3 milhão de Valério, responderá por lavagem de dinheiro e crime contra a administração

O ex-tesoureiro do PL Jacinto Lamas foi indiciado ontem por lavagem de dinheiro e crime contra a administração pública no inquérito da Polícia Federal que investiga o mensalão. Ele confessou ter recebido cerca de R$ 1,3 milhão do empresário Marcos Valério de Souza, "em pacotes lacrados", mas não quis colaborar com as investigações sobre o destino do dinheiro. Alegou apenas ter entregue os pacotes, sem conferir, ao presidente do partido, o ex-deputado Valdemar Costa Neto (SP), que renunciou antes de responder a processo de cassação.

O indiciamento de Lamas é o segundo que a PF faz às vésperas de mandar o inquérito do mensalão ao Supremo Tribunal Federal (STF). O outro foi o de Duda Mendonça, ex-marqueteiro do Palácio do Planalto, acusado de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e sonegação fiscal. Do mesmo modo, Duda não colaborou com as investigações, embora tenha confessado, em depoimento à CPI dos Correios, que recebeu R$ 10,5 milhões de Valério em pagamento de parte da dívida do PT por conta da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Nos dois casos, porém, o indiciamento ainda terá de ser submetido ao procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, uma vez que o inquérito está sob a responsabilidade do STF. Com relação aos demais acusados de envolvimento com o mensalão, inclusive os 18 parlamentares da base aliada que sacaram das contas de Valério, a PF se limitará a indicar os artigos da lei infringidos, cabendo ao STF decidir se já há elementos para o indiciamento, medida que torna investigados em acusados formalmente.

O inquérito será enviado ao Supremo logo depois do carnaval, mas a PF vai pedir mais prazo para concluir as investigações sobre o caixa 2 petista. A documentação a ser enviada agora não inclui as investigações de um outro caixa 2, na estatal Furnas, que teria financiado campanhas também de partidos de oposição, sobretudo PSDB e PFL, em 2002.

O operador desse esquema seria o ex-diretor de Furnas Dimas Toledo, que, segundo apurou a PF, cobrava um "pedágio" de construtores e fornecedores que prestam serviços à estatal. Parte da arrecadação seria usada para financiar campanhas eleitorais. Dimas Toledo nega a denúncia.

A PF realiza diligências há vários dias para obter o original da lista de 156 parlamentares que teriam recebido mais de R$ 36 milhões do caixa 2 de Furnas na campanha de 2002. O lobista Nilton Monteiro, autor da denúncia, prometeu mais uma vez ontem entregar a lista, cuja autenticidade ainda não foi confirmada, mas até o fim do expediente na PF não o havia feito.