Título: Porto ao lado e terra barata são as maiores vantagens
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/03/2006, Economia & Negócios, p. B8,9

Terminal da Vale em São Luís e boas ferrovias dão vantagens competitivas aos produtores

Uma das grandes vantagens dos produtores de soja do Maranhão e do Piauí é a proximidade das fazendas do Porto de Ponta da Madeira, em São Luís, da Vale do Rio Doce, que é o principal terminal de exportação de minério de ferro do Brasil.

O porto é usado também para a exportação de soja. Apesar do estado precário de parte significativa da malha rodoviária maranhense, por onde escoa a soja, a proximidade do porto e as boas ferrovias, como as estradas de ferro de Carajás e a Norte-Sul, dão uma vantagem competitiva para os produtores da região em relação à maioria dos competidores em outras áreas do País.

Outro atrativo é o preço relativamente baixo das terras.

Segundo Theodomiro Garcia Neto, gerente geral da Fazenda Palmeira, em Chapadinha, no norte do Maranhão (área recentíssima para a soja), o hectare já trabalhado nesta parte do Estado está entre R$ 250 a R$ 300, comparado com o de R$ 5 mil a R$ 6 mil em Mato Grosso, o eldorado da soja no Brasil, onde trabalhou anteriormente. Na região de Balsas, a mais desenvolvida do Maranhão para a commodity, o preço varia entre R$ 2 mil e R$ 4 mil.

O preço baixo da terra tem como contrapartida o trabalho técnico intenso para corrigir as condições do solo e reagir com eficiência às intempéries climáticas. "Estamos no extremo do clima para a soja", diz José Antônio Gõrgen, o "Zezão", proprietário de 40 mil hectares de soja no Maranhão e Piauí. A sua referência é especificamente à propriedade no Piauí, que ocupa uma área quase de transição entre o semi-árido nordestino e o cerrado do Brasil central.

Esta situação técnica e empresarialmente complexa da soja no Maranhão e no Piauí condicionou, de certa forma, o surgimento de empresas e produtores sofisticados na região. "O Maranhão entrou na era da agricultura de precisão", diz Oswaldo Massao Ishii, proprietário de uma fazenda de soja de 6 mil hectares no município maranhense de São Raimundo da Mangabeira.

Em 2005, Massao foi um dos três produtores de soja condecorados em Brasília pelo ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, como os mais produtivos do País. A produtividade média de Massao nos últimos três anos ficou em 59,5 sacos de 60 quilos por hectare, bem acima da média de Mato Grosso (o Estado mais produtivo em soja), por volta de 50 sacos.

As deficiências de calcário, fósforo e potássio da fazenda de Massao são corrigidas por um sistema no qual a área da fazenda é subdividida em "talhões" de 100 hectares, dos quais são retiradas de 30 a 40 mostras de terra nas camadas de zero a 20 centímetros, e de 20 a 40. A subdivisão e mapeamento dos talhões é feita por GPS, via satélite. A qualidade da terra é trabalhada talhão a talhão.

Na fazenda Palmeira, onde também foi realizado um intenso trabalho técnico de correção do solo e de experimentação com diferentes cultivares (variedades) de soja, o gerente Garcia Neto acha que pode chegar a faixa de 55 a 60 sacas por hectare, ou até mais de 60, na colheita da safra 2005/2006, prevista para maio.

Se esta última hipótese ocorrer, diz, "a gente corre um sério risco de ser o campeão de produtividade este ano na empresa".